Liberação da máscara em SP foi barrada por alta taxa de contágio

Esse índice de 42,2% é chamado de taxa de ataque

Um estudo elaborado pela Prefeitura de São Paulo indicou que 42,2% das pessoas que tiveram contato com pessoas contaminadas pela Covid-19 também desenvolveram a doença, mesmo estando em casa e, a maior parte delas, vacinada.

Essa foi a principal justificativa para que levou a gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB) a abandonar a ideia de liberar o uso obrigatório das máscaras já a partir do dia 15 deste mês, última sexta-feira.

O estudo denominado RastCov Sampa (Rastreamento e Testagem de Contatos de Covid-19) da Secretaria Municipal de Cultura da Prefeitura de São Paulo analisou 16.589 casos de pessoas com síndrome gripal que foram atendidas entre os dias 13 de setembro a 24 de setembro. Destas, 2.359 testaram positivo para a Covid-19, numa taxa de positividade de 14,2%.

O que a prefeitura fez foi monitorar onde e com quem essas pessoas contaminadas tiveram contato e, a partir daí, analisar se elas também desenvolveram a doença por meio de testes. Segundo essa análise, 42,2% das pessoas sadias que tiveram contato com alguém contaminado também acabaram infectadas após esse contato.

Esse índice de 42,2% é chamado de taxa de ataque. Ele não reflete a situação de toda a cidade, apenas do grupo analisado. O cálculo é feito a partir da quantidade de pessoas contaminadas com o número de pessoas que foram expostas num determinada área.

Segundo o estudo, 88% dos contatos podem ter sido contaminados dentro de suas casas, pelo fato de estarem próximos a parentes ou colegas que moram no mesmo lugar, local onde quase sempre o uso da máscara é dispensado. A maior parte dessas pessoas já estava vacinada.

“Eu tinha expectativa pessoal de que poderia liberar. Ainda bem que eu pedi o estudo”, disse Nunes nesta segunda-feira, em entrevista coletiva.
Ele esteve na zona sul de São Paulo para inauguração da 469ª UBS (Unidade Básica de Saúde) da capital, denominada Santa Cruz, localizada na Vila Mariana, antes ocupado pelo NGA (Núcleo de Gestão Assistencial) do governo estadual.

“A maior parte deles adquiriu [Covid-19] no ambiente domiciliar, dentro de casa, lugar aonde normalmente não se usa a máscara. Portanto, isso comprova a necessidade que a gente continue, mesmo nos ambientes externos, a usar máscara”, afirmou o secretário municipal de Saúde, Edson Aparecido.

“Por meio do trabalho que foi feito, é possível detectarmos que nos ambientes onde não se usa a máscara a taxa de contaminação ainda é muito alta”, complementou o secretário.
Ainda segundo Edson Aparecido, quando for decidida, a liberação não deve ser diferente para ambientes externos ou não.

“Se transferirmos [o ambiente] para fora de casa, potencialmente você estará muito a transmissão no metrô, ônibus e os contactantes podem ter a doença. E mesmo com a vacinação. Essas pessoas manifestam a doença, mesmo que em formato leve, mas ela continua transmitindo”, afirma o secretário Edson Aparecido.

Segundo o epidemiologista Eliseu Alves Waldman, professor do Departamento de Epidemiologia da Faculdade de Saúde Pública da USP, a transmissibilidade alta já é esperado em estudos desse tipo, e esses estudos já deveriam ter sido feito muito antes.

Ele explica que a importância dessas informações reside em nortear políticas para o combate da doença. “Teoricamente todos os contatos deveriam ser investigados e fazer o rastreamento”, afirmou.

A recomendação médica é a de que as pessoas que testaram positivo para Covid-19 fiquem isoladas. Já os chamados contatos -parentes que moram a mesma casa, colegas de trabalho, escola, entre outros- devem cumprir quarentena.

O monitoramento dos contatos detectou que 12,1% (1.882) não cumpriram a quarentena, mesmo após terem sido orientados a fazê-lo. Quatro em cada dez (40,4%), ou 761 desse universo que conscientemente não cumpriu a recomendação, declararam como justificativa meramente a opção pessoal. Outros 14,3% do não cumpriram por questões relacionadas ao trabalho (8,3% dos casos os empregadores não permitiram, e 6,2%, são autônomos).

Para o epidemiologista Eliseu Alves Waldman, da USP, esse comportamento de optar por não fazer a quarentena reflete um individualismo. “Infelizmente isso não é um ato isolado, do mesmo modo que você tem gente que não quer usar a máscara e não quer se vacinar”, diz. Um novo estudo está sendo produzido e deverá ter o seu resultado até o dia 12 de novembro, segundo a prefeitura.

Texto: Clayton Freitas

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