‘Vi a idosa sendo arrastada pela água’, diz turista sobre mulheres mortas em cachoeira de SP
De acordo com o Corpo de Bombeiros, os 16 pessoas tiveram que ser socorridas
A vendedora de consórcios Bruna Roberta Alves Miranda Fabrício, 31, não consegue tirar da memória a imagem de uma idosa sendo arrastada pelo rio do Braço, na região da Serra da Mantiqueira.
A mulher, de 74 anos, foi uma das quatro mortas no local, quando uma cabeça d’água fez a piscina natural onde turistas estavam em Lavrinhas (a 233 km de São Paulo) encher de repente, por volta das 11h30 deste domingo (12).
“Não consegui dormir direito e minha filha acordava toda hora assustada”, afirmou Bruna, moradora da Penha, na zona leste de São Paulo, e que domingo foi com o marido e a filha a uma excursão para a cidade do interior paulista, famosa pelo turismo em cachoeiras, corredeiras e trilhas.
As demais vítimas da tragédia são três mulheres, de 21, 22 e 29 anos. De acordo com o Corpo de Bombeiros, outras 16 pessoas tiverem que ser socorridas.
Mas a vendedora de consórcio diz que o número de turistas que ficaram ilhados é muito maior. Segundo ela, seu marido, por exemplo, participou de uma corrente humana com outros homens para ajudar a resgatar pessoas.
“A cachoeira estava transparente, com a água verdinha, clarinha”, afirmou. “Do nada começou a gritaria, a água já veio com força e as pessoas foram jogadas. Foi tudo muito rápido, sem tempo de reação”, afirmou Bruna, que não havia entrado na cachoeira, pois sua excursão, que saiu da zona leste de São Paulo, havia chegado pouco antes ao local. Segundo ela, o marido e a filha estavam na beirada da água.
Para Bruna, seu grupo acabou sendo salvo por um imprevisto: um passageiro de sua excursão passou mal no trajeto, o que acabou atrasando a chegada à cachoeira da Pedreira. “Ninguém do meu ônibus se machucou, mas se tivéssemos chegado às 9h30, como previsto, acho que estaríamos todos na água na hora da tragédia.”
Mas é a cena da idosa, que segundo boletim de ocorrência registrado na polícia de Lavrinhas, foi ao local com uma excursão do Rio de Janeiro, que vai marcar a tragédia de domingo para a paulistana.
“Ela desceu boiando na minha frente”, afirmou.
A idosa Iaracy da Cruz Veiga chegou a ser socorrida a um hospital da cidade vizinha de Cruzeiro, mas não resistiu. As outras vítimas são de Pindamonhangaba, no interior paulista.
Bruna reclamou da falta de estrutura do local.
Segundo ela, não havia salva-vidas. “Nem uma corda para uma hora dessas tinha por lá”, disse.
José Henrique Bonci Nunes, coordenador da Defesa Civil de Lavrinhas, afirmou que foi um acidente natural, por isso não havia fiscalização. E que o município vai fazer uma análise de locais para a instalação de pontos de alertas para que turistas possam ser avisados com antecedência dos riscos.
Segundo ele, a causa da tragédia foi uma cabeça d´água -fenômeno causado por chuva forte na parte alta de um rio provocando o repentino aumento no volume de água.
De acordo com os bombeiros, choveu na região pouco antes. Bruna afirmou que sua excursão enfrentou uma pancada no caminho, mas que na hora do acidente não chovia.
A turista paulistana disse que na véspera chegou a questionar em um grupo de mensagens da excursão se era melhor adiar a viagem, pois havia visto que a previsão era de chuva para o domingo. Segundo ela, depois da tragédia, o grupo foi para um rancho em Lavrinhas, onde almoçou, e sua família só chegou em casa por volta das 22h de domingo.
RESGATE
De acordo com o capitão Rafael Brito, dos Bombeiros, em vídeo publicado no Twitter, drones foram usados para encontrar o corpo de uma das vítimas, Patrícia Agostinho Rodrigues Gonçalves, 21, na manhã desta segunda-feira (13).
Os outros dois corpos, de Lucilene Rodrigues Ribeiro, 22, e Kelisse Nascimento de Barros, 29, foram resgatados no próprio domingo.
Ao todo, 13 bombeiros participaram da operação, além de equipes da Defesa Civil de Lavrinhas e de Cruzeiro.
Por Fábio Pescarini