Ações do Nubank fecham janeiro com queda acima de 20%; entenda – Mais Brasília
FolhaPress

Ações do Nubank fecham janeiro com queda acima de 20%; entenda

Alta dos juros globais e desafios para monetizar base de clientes pressionam papéis da fintech na Bolsa dos EUA

Foto: Divulgação/Nubank

Mesmo com uma forte alta de quase 10% nesta segunda-feira (31/1) marcada pelo maior apetite ao risco dos investidores, as ações do Nubank negociadas na Bolsa de Nova York (Nyse), nos Estados Unidos, não conseguiram escapar de um mês de janeiro bastante negativo. Os papéis registraram desvalorização de 20,8% no acumulado do primeiro mês do ano.

Na estreia na Bolsa americana no início de dezembro, a fintech chegou a ser avaliada em cerca de US$ 41,5 bilhões (R$ 222,3 bilhões) pelos investidores, o que a fez figurar na ocasião como a mais valiosa instituição financeira da América Latina em valor de mercado, ultrapassando os conglomerados Itaú e Bradesco.

Com a queda das ações da fintech desde então, no entanto, o valor de mercado do Nubank recuou para US$ 34,2 bilhões (R$ 183,2 bilhões) nesta segunda, uma queda de US$ 7,3 bilhões (R$ 39,1 bilhões).

O recuo fez o banco digital ser ultrapassado nas últimas semanas como instituição financeira com maior valor de mercado por Itaú (US$ 43,5 bilhões, R$ 233,02 bilhões) e Bradesco (US$ 38,1 bilhões, R$ 204,1 bilhões).

Ainda assim, levantamento da Economatica aponta que, ao final de janeiro, o Nubank se posicionava como a décima empresa mais valiosa da América Latina, com a liderança a cargo de Petrobras (US$ 82,8 bilhões) e Vale (US$ 73,8 bilhões).

“A gente entende que o movimento de queda das ações do Nubank está muito menos relacionado à expectativa de performance da empresa e mais à dinâmica de mercado para as ações de tecnologia de forma geral”, afirma José Augusto Albino, fundador da gestora de recursos especializada em tecnologia Catarina Capital.

Ele lembra que o índice da Bolsa americana Nasdaq, conhecida pela alta concentração de papéis de empresas de tecnologia, teve uma queda de 9% em janeiro. As perdas foram parcialmente amenizadas pela alta de 3,4% nesta segunda.

O setor de tecnologia tem sofrido em diferentes países especialmente com a alta da inflação, que força os bancos centrais a sinalizarem o início do aperto nas condições fiscais e monetárias.

O ambiente de elevada concorrência proporcionada pelas big techs americanas e grandes redes de varejo também vem penalizando empresas de tecnologia que ainda estão em processo de consolidação no mercado.

O aumento da regulamentação do governo chinês sobre empresas do setor do país também tem contribuído para turvar a avaliação de especialistas.

No Brasil, pesam ainda o aumento dos juros já em curso e seu consequente impacto nas despesas de empresas de comércio e serviços, que utilizam o sistema de forma massiva, bem como o avanço de outras alternativas de pagamentos, como o Pix, e a entrada de novas companhias nesse setor, como Magazine Luiza, que lançou a MagaluPay.

No entanto, apesar de todos os desafios, se o Nubank entregar o que se espera dele nos próximos balanços de resultados, os papéis rapidamente devem voltar a apresentar uma performance positiva destacada, como já pôde ser visto nesta segunda, diz Albino.

“É uma volatilidade esperada e natural para esse perfil de empresa, de tecnologia com alto potencial de crescimento futuro”, afirma o gestor da Catarina Capital.

Com o primeiro balanço depois de ter feito a abertura de capital esperado para meados de fevereiro, os analistas do Itaú BBA estimam que o Nubank deve apresentar uma receita total de aproximadamente R$ 2,6 bilhões no quarto trimestre do ano passado, o que representaria um crescimento de 28% na comparação com o trimestre imediatamente anterior.

Os analistas do banco preveem que o banco digital deve ter um lucro de aproximadamente R$ 200 milhões no período, embora reconheçam ter uma baixa visibilidade a respeito dos números do primeiro balanço trimestral da fintech.

Sócia e analista da Nord Research, Danielle Lopes assinala que os investidores estarão atentos aos números, em especial para saber se o Nubank tem conseguido monetizar sua extensa base de clientes.

“O Nubank tem uma base de clientes grande [de aproximadamente 48 milhões de pessoas] que foi captada com a promessa de tarifas baixas e agora eles precisam começar a monetizar. E o mercado está um pouco receoso se a empresa vai conseguir fazer isso, porque a promessa vai mudar completamente”, diz a especialista, acrescentando que o ambiente macroeconômico global, com aumento das taxas de juros pelo Federal Reserve, adiciona ainda um fator de pressão a mais para o negócio.

As empresas de tecnologia têm como característica necessitarem de níveis elevados de investimentos, para ganharem escala e participação de mercado, até atingirem a lucratividade no futuro.

No entanto, com os juros mais altos previstos para os próximos anos em escala global, investidores começaram em meados do ano passado a rever os modelos traçados para o crescimento desses negócios. Essa revisão deve se intensificar nos próximos meses, diz a analista da Nord.

“As empresas de tecnologia têm sofrido bastante e devemos esperar o cenário macro trazendo bastante volatilidade para os papéis do setor neste ano”, afirma Danielle.

Rodrigo Crepi, analista da Guide Investimentos, acrescenta que, embora a expectativa seja de que o Nubank apresente resultados positivos em 2022, o nível em que as ações foram precificadas na oferta inicial na Bolsa dos Estados Unidos tem sido questionado por parte de alguns investidores.

“A narrativa de Nubank é interessante, mas os múltiplos em que as ações foram precificadas na oferta vieram muito esticados e acho que esse é o principal fator que vem pressionando o preço do papel”, afirma Crespi.

“O Nubank tem muitas conquistas e potencial de crescimento, mas o valuation das ações não deixa espaço para equívocos. Vemos um desafio estrutural para o potencial de monetização de clientes no Brasil e esperamos por um ciclo de aumento da inadimplência à frente que pode trazer dificuldades para a base de cliente recém-formada da fintech”, apontam os analistas do Itaú BBA, que tem recomendação “underperform” (desempenho abaixo da média de mercado), com preço alvo de US$ 8 para as ações do Nubank em dezembro de 2022.

Por Lucas Bombana