Bolsonaro volta a questionar vacina contra Covid em adolescentes

A Anvisa autorizou a vacinação das pessoas de 12 a 17 anos no Brasil

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou a criticar nesta segunda-feira (11/10) a aplicação da vacina contra Covid em adolescentes sem comorbidades. Ele criticou a medida durante conversa com apoiadores e jornalistas na praia da Enseada, em Guarujá, no litoral paulista.

O presidente está hospedado desde sexta (8/10) no hotel de trânsito do Forte dos Andradas, localizado no município, para “Os caras tentam desqualificar você por qualquer coisa. Agora, por que não divulgam o número de mortes de pessoas vacinadas? Não divulgam. Muita gente que tomou a segunda dose está morrendo”, disse o presidente.

A Folha já mostrou que declarações como essa do presidente são equivocadas. Com o aumento da cobertura vacinal, é natural que aumente a quantidade de pessoas imunizadas entre as internadas ou mesmo entre as que venham a morrer, já que nenhuma vacina tem proteção de 100%.

Mas, dado que os imunizantes são eficazes, a probabilidade de complicação entre os vacinados vai ser menor do que entre os sem proteção.

“Por que muitos governadores e prefeitos vacinaram jovens entre 12 a 17 anos? Baseados em quê? Recomendação da Anvisa? Da Saúde? De quem? Estamos mexendo com vidas. A molecada abaixo de 20 anos, a chance de não ter nada, uma vez contaminada, é de 99,99%. Compensa o custo benefício da vacina?”, disse Bolsonaro, pouco após se irritar ao ser questionado sobre a marca de 600 mil óbitos pela doença no país, atingida no último dia 8.

“Qual país não morreu gente? Responda. Não vem me aborrecer aqui, por favor”, retrucou sobre o assunto.

A Anvisa autorizou a vacinação das pessoas de 12 a 17 anos no Brasil, e países como os Estados Unidos já analisam liberar a imunização de crianças com menos de 12 anos.

A declaração de Bolsonaro, de crítica à vacinação de adolescentes, contraria a orientação do próprio Ministério da Saúde, que, após idas e vindas, decidiu que os benefícios da imunização desse grupo são maiores que os riscos de efeitos adversos.

No último dia 22 de setembro, o Ministério da Saúde voltou a sinalizar positivamente para a vacinação de adolescentes sem comorbidades. A pasta preparou nota técnica e informe aos gestores do SUS com orientações para recolocar o grupo de 12 a 17 anos na campanha de imunização.

Seis dias antes, o governo chegou a mudar as regras e passou a recomendar que o grupo não fosse vacinado. O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, atribuiu a medida ao fato de supostamente haver dúvidas sobre a segurança da imunização e criticou estados que já aplicavam doses em menores de 18 anos.

Segundo ele, na ocasião, mais de 3,5 milhões de adolescentes foram vacinados de forma intempestiva. Ele também disse que um percentual inferior a 1% apresentava efeitos adversos. “Não é um número grande, mas temos que ficar atentos”, disse à época.

“Não me chame de negacionista porque só em dezembro, via medida provisória, foi um checão de R$ 20 bilhões para comprar vacina. Então, não reclamem. Nenhum prefeito reclame de mim”, completou Bolsonaro nesta segunda.

A fala faz referência a uma medida provisória, assinada em 17 de dezembro, que destinou R$ 20 bilhões do governo federal para a campanha de vacinação em massa contra a Covid. Mesmo quando liberou o recurso para a imunização, Bolsonaro continuou com discurso em que põe dúvidas sobre a segurança das vacinas.

Bolsonaro saiu acompanhado da comitiva para um passeio de moto em Guarujá. Assim como fez em Peruíbe, no sábado (9/10), ficou sem máscara de proteção, cumprimentou pessoas e segurou crianças no colo. Chegou a passar por um restaurante, mas foi embora minutos depois.

Ele disse que irá para Aparecida nesta terça-feira (12/10) e, posteriormente, na quarta (13/10) seguirá para Miracatu, onde fará a entrega de títulos de regularização de terras para produtores rurais do Vale do Ribeira.

Por Klaus Richmond

 

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