Dificuldade para se bronzear indica predisposição ao câncer de pele

A exposição excessiva ao sol não faz bem a ninguém

Pessoas que se bronzeiam pouco e ficam muito vermelhas têm maior predisposição a desenvolver o câncer de pele. A exposição excessiva ao sol não faz bem a ninguém, mas principalmente esse grupo deve redobrar os cuidados.

“A pele mais pigmentada e colorida tem mais melanina, que é um filtro solar natural, e uma exposição solar menor”, afirma Thais Bello Di Giacomo, dermatologista e membro do corpo clínico dos hospitais Israelita Albert Einstein, Sírio-Libanês e Alemão Oswaldo Cruz.

Para ela, é importante ressaltar que a melanina não substitui o filtro solar adequado. Além disso, o isolamento social imposto pela pandemia de Covid-19 fez com que a pele morena ficasse menos resistente ao sol e mais sensível, pois a pigmentação é determinada pela exposição.

Independentemente da pandemia e da cor da pele, um conselho vale para todos: cuidado.
Segundo o Inca (Instituto Nacional do Câncer), o câncer de pele não melanoma é o mais frequente no Brasil e corresponde a cerca de 30% de todos os tumores malignos registrados no país. A doença se dá pelo crescimento anormal das células da pele, normalmente em áreas com uma grande exposição solar.

“Apesar do alto número de casos, quando diagnosticado precocemente e tratado de maneira adequada, o câncer de pele apresenta um baixo índice de mortalidade. A enfermidade, que é mais comum em pessoas com mais de 40 anos, vem atingindo cada vez mais jovens devido à constante exposição deles ao sol”, informa Aumilto Júnior, oncologista do Hospital Santa Catarina – Paulista.

O câncer de pele acontece quando os raios ultravioleta chegam ao DNA, e é desta forma também que ocorre o bronzeamento da pele. Ele estimula a célula a tentar se proteger com a produção de melanina e o nível de proteção depende da capacidade que o indivíduo tem de produzi-la.

Alguns preferem o sol de manhã bem cedo ou no final da tarde –especialistas recomendam antes das 9h e após 16h–, mas é preciso entender que a radiação ultravioleta B, que aumenta perto do meio-dia e diminui no final da tarde, não é a única prejudicial.

“A incidência do ultravioleta A é constante, do nascer do sol até a hora que ele se põe, e hoje sabemos que o A também causa câncer de pele. A confirmação veio com as câmeras de bronzeamento artificial, porque a ideia era tirar o ultravioleta B e reproduzir o sol bom. Percebemos que o melanoma –câncer de pele mais perigoso– explodiu com o uso dessas câmeras”, explica Di Giacomo.

E quanto tempo demora para aparecer o câncer de pele? Segundo a médica, a incidência solar é cumulativa.
“Fazendo uma analogia, para você desenvolver um câncer de pele é como se atingisse o topo de uma escadaria. Cada vez que se expor excessivamente ao sol, é um degrau da escada que se sobe. Tem gente que parte de baixo da escada. Essa pessoa pode subir quantos degraus for que nunca chegará ao topo. É a predisposição. Existem pessoas que saem do meio da escada ou já do alto. São as de pele muito clara, histórico de câncer na família, com sardas, as ruivas. O quanto cada um vai poder se expor até desenvolver um câncer de pele é variável”, explica.

Principal fonte de vitamina D, o sol sem exageros é benéfico à saúde. Os países com maior incidência solar têm menores taxas de depressão e suicídio. Para aproveitá-lo de modo a obter benefícios e afastar os malefícios, é importante tomar algumas medidas.

“Por exemplo, se você vai caminhar na praia, é preferível que faça bem no começo da manhã ou no final da tarde, porque mesmo com a incidência de UVA, diminuirá a de UVB. O filtro solar não vai comprometer a sua caminhada. Você vai se proteger, mas não deixará de caminhar”, diz a médica.

“Com as crianças o cuidado é redobrado. Antes dos seis meses de idade é recomendável evitar o uso de protetor e a exposição solar. Até dois anos os pais devem utilizar protetor solar infantil. Depois, é preferível mantê-lo, mas já é possível optar por qualquer filtro para pele sensível”, ressalta Gomes.
“Para todo mundo, a aplicação deve ser bastante generosa para que alcance a proteção descrita na embalagem. O ideal é a aplicação dupla, a cada duas horas, quando transpirar durante atividade física ou sair da água”, recomenda.

Pelo fato de o Brasil ser um país com índice de radiação ultravioleta alta em todas as regiões, o protetor solar é um cuidado que precisa ser estendido a outras estações do ano. “Ele também protege a pele contra outros danos que o sol provoca, como envelhecimento precoce e manchas, por exemplo.”
Fique atento aos sinais Basicamente, há três tipos de câncer de pele:

Carcinoma basocelular é o mais comum e tem o crescimento lento. Pode apresentar como sinais pequenas manchas ou lesão avermelhada que chama a atenção, principalmente na região de cabeça e pescoço;

Carcinoma espinocelular: geralmente, é uma ferida que não cicatriza ou uma verruga dolorosa mais endurecida ou descamativa em crescimento progressivo;
Melanoma: é o mais agressivo. Caracteriza-se por uma pinta que cresce e se modifica.

“Todos os tipos de câncer de pele podem se espalhar. A diferença entre eles é a capacidade que isso tem de acontecer. O basocelular tem um crescimento mais localizado e são raríssimos os casos de metástases. O espinocelular tem um crescimento mais rápido e pode dar metástase, principalmente nos gânglios e na região onde o tumor está. O melanoma mesmo muito pequeno já tem a capacidade de produzir metástase, que pode atingir qualquer órgão do corpo”, explica Gomes.

“A partir da biópsia, os procedimentos recomendados pelos médicos vão variar entre cirurgia, radioterapia ou terapias sistêmicas, como terapia alvo ou imunoterapia”, diz Júnior.
Exposição solar com cuidados Não confie só no filtro solar: as melhores barreiras são as físicas, como a barraca, a roupa, sombra, o chapéu e os óculos; A hidratação ajuda a recuperar a pele danificada pelo Sol. Retém mais a água na pele, evita o ressecamento, colabora na prevenção do envelhecimento, de dermatites e rugas; Use filtro solar com fator de proteção 50, no mínimo: segundo estudos, o FPS equivale a 57% do que está no rótulo, porque na aplicação as pessoas espalham demais e numa quantidade menor do que a recomendada. O correto é usar 30 gramas a cada aplicação; Como escolher o filtro solar: opte por marcas boas e consagradas que tenham a aprovação da Sociedade Brasileira de Dermatologia e da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Leve em consideração o objetivo e o tipo de pele; Cuidado com as crianças: uma queimadura com bolha duplica a chance de ela desenvolver um melanoma. Estudos mostram que 80% dos danos solares causados na pele acontecem até os 25 anos; Fique longe de técnicas e receitas caseiras de bronzeamento.

Por Patrícia Pasquini

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