Diretor de Avaliação da Capes pede demissão após renúncia de pesquisadores – Mais Brasília
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Diretor de Avaliação da Capes pede demissão após renúncia de pesquisadores

Essa é a primeira demissão no alto escalão da Capes, instituição vinculada ao Ministério da Educação

Foto: Marcello Casal Jr/ Agência Brasil

Após uma leva de renúncias que atingiu mais de cem pesquisadores ligados à Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), o órgão perdeu seu diretor de Avaliação, Flavio Anastacio de Oliveira Camargo. A baixa ocorreu nesta terça-feira (14/12).

Essa é a primeira demissão no alto escalão da Capes, instituição vinculada ao Ministério da Educação. As renúncias anteriores atingiram coordenadores e consultores que não são servidores do órgão, mas têm papel central na avaliação da pós-graduação do país.

Segundo relatos, o diretor não vinha se sentindo à vontade no cargo, cuja função envolve a avaliação da pós-graduação, no centro de uma controvérsia desde o fim de novembro. Ele também teria alegado problemas de saúde.

Procurada, a presidente da Capes, Cláudia Mansani Queda de Toledo, confirmou à Folha que recebeu uma carta com pedido de exoneração indicando questão de saúde.

“Para a segurança da academia, para a estabilidade de todo sistema de pós-graduação, indicarei com muita cautela o nome de um ou uma grande cientista para que a academia se sinta muito segura na condução do processo de avaliação, que é meta inarredável da minha presidência”, disse Toledo.

A presidência da Capes deve fazer uma reunião com a Diretoria de Avaliação na manhã desta quarta-feira (15/12) para tratar do assunto. Camargo foi procurado, mas não respondeu à reportagem.

A demissão, segundo pesquisadores consultados, amplia a crise que vive atualmente o órgão. Coordenadores e consultores de 4 das 49 áreas de avaliação da pós-graduação já se desligaram, desde o fim de novembro, das atividades com fortes críticas aos gestores do órgão.

Esses pesquisadores criticam os rumos do órgão e denunciam supostas pressões para acelerar a abertura de novos cursos e aprovar ofertas a distância. Eles se queixam também de suposto descaso para a retomada da avaliação dos programas, que chegou a interrompida pela Justiça.

A presidente da Capes defendeu, em entrevista exclusiva à Folha, que as renúncias não representavam uma crise na instituição. O motivo apontado por ela é que essas saídas não atingiam o corpo de servidores -agora, o quadro tem alteração.

A Capes fez um apelo para que os todos coordenadores permaneçam colaborando com a avaliação. Além disso, a presidente disse à Folha que espera que os renunciantes reconsiderem a decisão de deixar os trabalhos.

Professor titular da Faculdade de Agronomia da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), Flavio Anastacio de Oliveira Camargo estava no cargo desde setembro de 2020. Sua postura era bem avaliada pela comunidade acadêmica e ele vinha sido poupado das críticas direcionadas à presidência do órgão.

Internamente, há a avaliação de que o diretor não poderia ter deixado o descontentamento dos pesquisadores chegar ao ponto de eles renunciarem.

A saída de Camargo foi considerada inesperada também entre coordenadores da avaliação da pós-graduação. A diretoria de Avaliação coordena dentro da Capes os trabalhos de análise da qualidade dos mestrados e doutorados.

A demissão causou maior estranheza entre pesquisadores porque Camargo assinou, na segunda-feira (13/12), carta conjunta com os outros cinco diretores do órgão para manifestar apoio à presidência diante do cenário. Ele já estava no cargo quando Cláudia Toledo assumiu a presidência.

No centro dessa querela está a Avaliação Quadrienal da pós-graduação (mestrados e doutorados) relativa ao período 2017-2020. As atividades foram interrompidas por decisão judicial em setembro, e foram o estopim para as primeiras renúncias.

No dia 2 deste mês, a Justiça autorizou a retomada dos trabalhos. A decisão, que atende ação do Ministério Público Federal, manteve o veto à divulgação dos resultados.

Os coordenadores pediram à presidência que estenda os mandatos deles até dezembro de 2022 para que a avaliação seja finalizada. Toledo havia dito à Folha que estudaria a data, que entendia muito longa, mas ela anunciou nesta terça que irá acatar o pedido de renovação dos mandatos até o fim do próximo ano.

Esse processo atribui notas que vão até sete, de acordo com a qualidade dos mestrados e doutorados. Essa classificação tem relação com a quantidade de bolsas de pesquisa concedidas –notas abaixo de três podem descredenciar os programas.

Por Paulo Saldaña