Familiares denunciam que PM matou jovem negro no RJ e jogou corpo em rio – Mais Brasília
FolhaPress

Familiares denunciam que PM matou jovem negro no RJ e jogou corpo em rio

Cuidadora diz que a polícia não prestou socorro

Sirene
Foto: Reprodução

Familiares do adolescente Cauã da Silva, 17, denunciam que o jovem foi morto durante uma ação da Polícia Militar na noite desta segunda-feira (4/4), em Cordovil, zona norte do Rio de Janeiro.
Segundo a família, o jovem participava do evento de um projeto social, onde treinava jiu-jítsu, quando foi alvejado por agentes com um tiro no peito.

“Depois do evento, assim que acabou, a polícia entrou atirando. Nesse desespero, todos correram. Inclusive o Cauã. Ele foi cercado. Deram um tiro no peito dele e, para piorar, jogaram o corpo dentro de um rio”, afirma Juliana da Silva, 45, tia do jovem.

A cuidadora diz que a polícia não prestou socorro. Parentes do adolescente e moradores da comunidade, segundo a tia, encontraram o jovem no rio. Ele foi levado ao Hospital Getúlio Vargas, na Penha, zona norte do Rio. De acordo com a Secretaria Estadual de Saúde, Cauã já chegou sem vida à unidade.

“A polícia acha que na comunidade só tem bandido. Mas não tem. Tem um Cauã da vida, que era um menino alegre, estudante, tinha sonhos. Queria seguir a carreira de lutador”, diz Juliana. “Mas, infelizmente, o sonho dele foi cortado pelo estado.”

Em nota, a Polícia Militar diz que a 1ª Delegacia de Polícia Judiciária Militar (DPJM) instaurou um inquérito policial militar para apurar as circunstâncias do caso. Questionada sobre detalhes da ação, como apreensões e número de presos, a PM não respondeu até o fechamento desta reportagem.

A corporação diz ainda que os policiais que participaram da ação foram afastados do serviço nas ruas e que as armas e equipamentos dos agentes já foram entregues à Polícia Civil para perícia.

A morte do jovem acontece quase duas semanas depois de o governo do estado publicar um decreto criando o Plano Estadual de Redução de Letalidade em Decorrência de Intervenção Policial, cujo objetivo é diminuir o número de mortes durante operações da polícia. A medida, porém, foi criticada por especialistas, que a consideram pouco objetiva.

No começo da tarde desta terça-feira (5), a família do jovem esteve no IML (Instituto Médico-Legal), no centro do Rio, para liberar o corpo do jovem. Muito emocionada, Cláudia Helena Camargo, mãe de Cauã, falou brevemente com a imprensa.
“Foi uma injustiça o que fizeram com meu filho.

Acabaram com a vida dele. Meu filho teve o corpo jogado dentro de um rio com um tiro no peito.”
Durante a manhã desta terça, moradores queimaram ônibus em Cordovil em protesto à morte do jovem. Segundo o Instituto Fogo Cruzado, 16 adolescentes foram baleados na região metropolitana do Rio neste ano, sendo que cinco deles morreram.

Em fevereiro deste ano, três policiais civis viraram réus pela morte do adolescente João Pedro Matos Pinto, 14. Ele foi baleado enquanto brincava com primos e amigos dentro da casa da família em São Gonçalo, na região metropolitana do Rio de Janeiro, em maio de 2020.

Diretora-executiva do Instituto Fogo Cruzado, Cecília Olliveira diz que casos como esses se repetem porque não há políticas públicas para que sejam evitados. Somado a isso, ela diz que o Ministério Público não tem cumprido de forma adequada a sua função de promover o controle externo da atividade policial.

Olliveira lembra que o órgão extinguiu no ano passado o Gaesp (Grupo de Atuação Especializada em Segurança Pública), cuja atribuição era investigar abusos policiais. “Foi preciso pressão pública para que um grupo fosse temporariamente instituído, com função vagamente semelhante, mas não com a mesma composição”, diz ela.

“Isso demonstra que não apenas o Governo do Rio de Janeiro tem responsabilidade sobre o que ocorre, mas que o Ministério Público tem deixado a desejar em sua função, diante de um quadro gravíssimo que são excessos e má conduta policial”, afirma a especialista.

Em nota, o Ministério Público diz que aguarda “ter vista do inquérito, o que deve ocorrer nos próximos dias, para distribuir o caso para umas das Promotorias de Investigação Penal Especializada”.

Por Matheus Rocha