É hora de comprar dólar para viajar? Especialistas respondem – Mais Brasília
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É hora de comprar dólar para viajar? Especialistas respondem

Na última quarta-feira (9/2), o dólar comercial fechou o dia valendo R$ 5,226

Foto: Reprodução

O dólar ronda a menor cotação em cinco meses e esse momento de baixa coincide com a retirada de restrições ao turismo em diversos países devido ao avanço da vacinação contra a Covid-19. Diante disso, é provável que algumas pessoas estejam se perguntando se chegou a hora de comprar a moeda americana para viajar. A resposta depende dos planos de viagem e do risco que o comprador está disposto a correr.

Na última quarta-feira (9/2), o dólar comercial fechou o dia valendo R$ 5,226, a menor cotação desde 13 de setembro do ano passado (R$ 5,223). Na sexta (11/2), antes de encerrar o pregão valendo R$ 5,24, a divisa havia caído a R$ 5,18 e só não manteve a baixa porque o mercado foi atemorizado por notícias de que autoridades dos Estados Unidos alertavam para uma iminente invasão da Ucrânia pela Rússia.

Incontáveis variáveis podem influenciar a taxa de câmbio em um intervalo de poucas horas ou até mesmo em alguns minutos. A atual crise na Europa é apenas uma delas. Isso torna praticamente impossível saber qual é o melhor momento para comprar moedas.

“Os profissionais mais preparados do mercado trabalham para acertar a quanto vai estar o dólar no fim do ano, mesmo assim, eles erram”, diz Flávio Oliveira, sócio da Zahl Investimentos.

É a imprevisibilidade que leva a uma receita básica para a compra de moeda para uma viagem internacional: buscar o preço médio. A regra é comprar quantidades iguais de dólares em intervalos regulares no período entre o início do planejamento e o embarque.

Intervalos de compras semanais, quinzenais ou mensais são escolhas que dependerão mais da disponibilidade de tempo e organização de cada comprador. O mais importante é comprar quantidades iguais e respeitar os intervalos estabelecidos.

“Comprar regularmente, em partes iguais, escolhendo o dia fixo [do mês ou da semana]” orienta Oliveira. “É o que todas as pessoas deveriam fazer”, diz.

A regra do preço médio vale para planejamentos de curto, médio e longo prazo. Exceções ficam apenas para os casos de viagens urgentes ou que já estão muito próximas.

“Se a viagem é daqui a um mês, pode comprar tudo agora, porque não dá para saber qual será o melhor dia”, comenta Natália Monaco, estrategista de renda variável da Veedha Investimentos.

Em um momento de certo alívio no câmbio, porém, é grande a tentação de descumprir as orientações dos especialistas. Nesse caso, para quem quiser literalmente fazer uma aposta para uma viagem planejada para o curto prazo, existem dois motivos para acreditar que essa baixa pode ser temporária e, portanto, favorável à compra.

O primeiro é que este é um ano de disputa eleitoral pela Presidência da República. O período tende a provocar altas no dólar conforme o período de campanha se aproxima.

Atentos a medidas do atual governo e a propostas dos principais candidatos que possam ser consideradas arriscadas para o equilíbrio das contas públicas, investidores podem trocar aplicações na economia doméstica por ativos no exterior. Uma saída consistente de capital tornaria o dólar escasso e ainda mais caro.

O segundo indicativo de uma baixa apenas temporária do câmbio é o contexto global. O dólar está caindo devido à entrada volumosa de estrangeiros no mercado financeiro brasileiro. Eles aportaram R$ 32,5 bilhões no mercado acionário do país em janeiro, de acordo com relatório da B3, a Bolsa de Valores do Brasil. O mês foi o mais positivo para o fluxo de capital externo na Bolsa brasileira desde novembro de 2020.

Mas é possível que os investidores internacionais, que representam 53% do capital aplicado na Bolsa, estejam buscando apenas ganhos momentâneos em países emergentes enquanto as principais bolsas mundiais passam por um período de baixa.

Grandes mercados globais entregaram lucros extraordinários em 2021, com destaque para os resultados nos Estados Unidos. O índice S&P 500, referência do mercado de ações de Nova York, avançou 28% no ano passado.

Juros praticamente zerados e injeções de dinheiro no mercado através da compra de ativos foram o fermento utilizado pelo Fed (Federal Reserve, o banco central americano) para que esse bolo crescesse tanto.

Em 2022 a situação é diferente. O S&P 500 recuou 7,3% do início do ano até a última sexta-feira (11). A Nasdaq, bolsa que concentra empresas de tecnologia e que possuem maior potencial de crescimento, já afundou 9,3%.

As quedas no mercado americano ocorrem devido à expectativa de que o Fed será forçado a promover um forte aperto monetário para controlar a maior inflação do país em 40 anos. O ajuste está previsto para começar em março, mas a autoridade monetária não tem sido clara sobre quanto e em qual velocidade irá elevar os juros.

Enquanto esperam uma definição sobre o tamanho do ajuste, investidores liquidam ativos encarecidos pelas altas recentes nas principais bolsas e buscam papéis desvalorizados e promissores em mercados emergentes.

O Brasil aparece com destaque entre as opções devido ao momento favorável às suas empresas de maior valor, principalmente no setor de materiais básicos. Pontos fortes das commodities brasileiras, petróleo e minério de ferro estão em alta.

Também atraente aos estrangeiros, o sólido setor bancário brasileiro é avaliado como promissor devido à possibilidade de ampliação de lucros em meio à alta da taxa básica de juros do Brasil, que está em 10,75% ano ano.

“Vemos estrangeiros entrar [na Bolsa], fazendo movimento de rotação entre ações de crescimento para valor. Lá fora as ações de tecnologia estão caindo muito e, aqui dentro, empresas de valor, como as de commodities e bancos, estão se valorizando puxadas por estrangeiros”, diz Jennie Li, estrategista de ações da XP.

O principal risco de saída de capital do Brasil é o efetivo início da elevação dos juros nos Estados Unidos, principalmente se essa alta se der de forma mais rápida e ampla do que o esperado. Isso aumentaria a atratividade dos títulos do Tesouro americano, considerados os investimentos mais seguros do mundo.

“Parte do capital pode estar aqui aguardando até que os juros americanos subam. Nesse ínterim a gente se beneficia por aqui”, diz Natália Monaco, da Veedha.

Por Clayton Castelani