Ministro da Saúde reconheceu falta de vacina da Pfizer em SP

Marcelo Queiroga, reconheceu em uma reunião com emissários do governo de São Paulo

O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, reconheceu em uma reunião com emissários do governo de São Paulo que havia falta de vacinas da Pfizer contra Covid-19 no estado. E sugeriu um encaminhamento para o problema.

“Se tiver D2 [segunda dose, no jargão da saúde] estocada, da Pfizer, podia usar pra D1 [primeira dose], entendeu?”, afirmou o ministro na sexta retrasada (6/8), num encontro em Brasília com o secretário estadual de Saúde de São Paulo, Jean Gorinchteyn, e técnicos.

A reportagem teve acesso ao trecho do vídeo da reunião em que Queiroga faz a sugestão. O ministro foi procurado neste sábado (14/8) para comentar o episódio, mas ainda não se pronunciou.

Dois dias depois daquele encontro, o ministro alegou que havia uma “divergência de cálculo” entre a pasta e o estado, que reclamava a entrega de 228 mil doses do fármaco.

Esse lote equivale a 50% da remessa que São Paulo esperava receber naquela semana do imunizante, essencial para sua estratégia de vacinar jovens de 12 a 17 anos a partir de 18 de agosto. Só a vacina da fabricante americana e sua parceira alemã BioNTech é autorizada para essa faixa etária.

Além disso, começou há pouco a vacinação da segunda dose da Pfizer no estado, três meses após a primeira. O fármaco demorou para chegar ao Programa Nacional de Imunização pela novela de protelações esmiuçada pela CPI da Covid.

Ou seja, a sugestão de Queiroga ainda ameaçaria a disponibilidade de vacinas para essas pessoas. Ela também vai contra a orientação geral do próprio ministério, que é a de manter os esquemas vacinais intactos -e tirar da D2 para dar à D1, dada o cobertor curto de fornecimento de imunizantes, implicaria risco.

Logo após São Paulo se queixar da falta das vacinas, no dia 3, o governo federal disse que havia ocorrido uma compensação devido à retirada maior do imunizante Coronavac pelos paulistas em outros meses, o que a gestão estadual negou.

O corte levou a um duro embate entre os governos de João Doria (PSDB) e de Jair Bolsonaro. Eles são rivais políticos e o tucano quer enfrentar o presidente na disputa pelo Palácio do Planalto no ano que vem.

O manejo da pandemia os opõe desde o começo da crise, em 2020. Bolsonaro insistiu em negacionismo, combateu vacinas e medidas de isolamento social. Doria foi no caminho inverso e patrocinou a chegada do primeiro imunizante ao país, a Coronavac.

São Paulo ameaçou, na semana retrasada, tomar medidas judiciais caso a situação não fosse resolvida, o que levou o secretário Gorinchteyn a Brasília.

O ministério até corrigiu dados inflacionados sobre entregas de vacina que mantinha em seu site e prometeu que a próxima remessa da Pfizer voltaria a atender o critério demográfico de distribuição dos fármacos.

Como tem 23% dos brasileiros, São Paulo vinha recebendo mais ou menos isso a cada reparte enviado pelo ministério.

Na terça (10/8), houve um envio de 240 mil doses para São Paulo e a pasta sugeriu estar compensando a queixa de São Paulo. Regiane de Paula, coordenadora do Programa Estadual de Imunização, discordou: “O ministério da Saúde deve ao estado 228 mil doses da vacina da Pfizer. Cada vacina importa”.

No dia seguinte, Doria acusou o ministro de descumprir o trato. “Eu aprendi com o meu pai que é feio mentir, que é feio prometer e não cumprir. Ou o ministro não tem palavra ou a sua palavra não vale no ministério da Saúde”, afirmou o tucano.

Sem solução à vista para o impasse, na sexta (13/8) o governo estadual acabou entrando com uma ação no Supremo Tribunal Federal contra o ministério, exigindo as 228 mil doses e o cumprimento do critério populacional de distribuição de vacinas. O caso será analisado pelo ministro Ricardo Lewandowski.

Por Igor Gielow

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