Ruralistas marcam churrascos no Bradesco após vídeo contra carne – Mais Brasília
FolhaPress

Ruralistas marcam churrascos no Bradesco após vídeo contra carne

O vídeo dá dicas de como o consumidor pode tomar atitudes mais sustentáveis

Bradesco
Foto: Reprodução

Entidades ligadas ao agronegócio estão marcando churrascos nas portas de agências do Bradesco na próxima segunda-feira (3), em protesto contra um vídeo veiculado nas redes sociais na última semana, em que influenciadoras recomendam a redução do consumo de carne e associam a prática a um aplicativo do banco que calcula pegadas de carbono.

O vídeo, que o banco tirou das redes no último dia 23, dá dicas de como o consumidor pode tomar atitudes mais sustentáveis, para reduzir o seu impacto individual nas emissões de gases de efeito estufa.

No material, as influenciadoras dizem que a primeira atitude que o consumidor pode tomar é diminuir o consumo de carne, optando por pratos vegetarianos uma vez por semana -movimento que ficou conhecido como “Segunda sem Carne”.

“A criação de gado contribui para a emissão dos gases de efeito estufa, então, que tal se a gente reduzir o nosso consumo de carne e escolher um prato vegetariano na segunda-feira?”, diz uma delas.

O vídeo provocou críticas de parlamentares que defendem pautas do agronegócio, de empresários do setor e de entidades. O banco, então, divulgou, no dia 24, uma carta aberta ao agronegócio, em que procurou se desvincular do conteúdo e disse que tomaria ações administrativas internas severas por conta do ocorrido.

“Nos últimos dias lamentavelmente vimos uma posição descabida de influenciadores digitais em relação ao consumo de carne bovina, associadas à nossa marca. Importante dizer que tal posição não representa a visão desta casa em relação ao consumo da carne bovina”, diz a carta do banco.
Em protesto, sindicatos rurais lançaram um movimento que estão chamando de “Segunda com Carne”.

O Sindicatc (Sindicato Rural de Cuiabá) marcou um churrasco na porta de uma agência do banco, no centro da capital de Mato Grosso. O protesto tem o apoio da Acrimat (Associação dos Criadores de Mato Grosso), da Nelore Mato Grosso e da ABCZ (Associação Brasileira dos Criadores de Zebu).

Segundo o Sindcatc, os modelos de produção da agropecuária brasileira utilizam práticas sustentáveis, pastagens produtivas e integrações para a criação de bovinos, que contribuem positivamente para a questão das emissões de carbono.

“Não podemos admitir ações que denigram o trabalho da pecuária brasileira (…) por isso não concordamos com a desinformação propagada pelo Bradesco”, diz o Sindcatc, por meio de nota.

Já a Acrimat emitiu uma nota repudiando tanto o vídeo quanto a postura do banco, “que emitiu um comunicado se isentando de qualquer responsabilidade sobre o ocorrido e reiterando sua confiança e apoio ao setor”.

“Ocorre que o próprio Bradesco, em um dos seus aplicativos, também estimula a redução do consumo de proteína animal com a desculpa de se reduzir a emissão de carbono. Ora, se somos uma das cadeias mais importantes para a economia, como o próprio Bradesco atua com essas duas versões?”, questiona a entidade.

O Sindicato Rural de Araguaína (TO) também agendou um churrasco em protesto ao vídeo do banco para a próxima segunda-feira, que irá ocorrer na porta da agência do banco no centro da cidade. “Segunda com carne bovina. Bradesco, respeite o pecuarista”, diz o anúncio.

Além dos protestos, empresas do setor dizem que estão deixando de ser clientes do banco. A Estância Bahia Leilões, do empresário Maurício Cardoso Tonhá, divulgou no Facebook que deixou de ter conta no Bradesco após a divulgação do material, que considerou um “ataque desnecessário que trabalha contra o setor.”

“Em respeito à pecuária brasileira e indignados com o ato de insanidade do Bradesco, que viola os nossos mais de 40 anos de relacionamento bancário, retiramos 100% de nossa movimentação financeira da instituição”, diz o empresário, em nota divulgada nas redes sociais.

Na quinta-feira (30), o banco disse que não iria se pronunciar além da carta aberta divulgada na última semana. Procurada novamente nesta sexta, a instituição ainda não havia se pronunciado até a publicação deste texto.

Por Douglas Gavras