Véspera da Olimpíada de Tóquio passa desapercebida no bairro mais japonês do Brasil
FolhaPress

Véspera da Olimpíada de Tóquio passa desapercebida no bairro mais japonês do Brasil

Apesar de a abertura oficial da Olimpíada de Tóquio ser na sexta, algumas modalidades começam a ser disputadas três dias antes. O evento ocorre até 8 de agosto.

Quem passa pelo principal reduto da comunidade japonesa do Brasil, a Liberdade, bairro turístico localizado no centro da cidade de São Paulo, nota que os conterrâneos dos anfitriões do principal evento esportivo do planeta não estão lá muito animados com o início da Olimpíada de Tóquio, previsto para começar às 8h desta sexta-feira (23), horário de Brasília.

A reportagem percorreu as principais ruas da Liberdade, na manhã desta segunda-feira (19), constatando que as pessoas não entraram no clima de festa, principalmente devido à pandemia de Covid-19.

O “clima”, ou, na verdade a “falta de clima”, constatado pela reportagem na Liberdade é similar ao da população japonesa, conforme indicou pesquisa realizada nos dias 17 e 18 deste mês pelo jornal Asahi Shibum, um dos mais prestigiados do país asiático. Segundo a publicação, 70% dos japoneses disseram duvidar que os Jogos possam ser realizados com segurança em relação à pandemia. A mesma insegurança fez com que o evento, que deveria ter ocorrido no ano passado, fosse adiado para 2021.

“Os japoneses são muito respeitadores com regras e, agora isso se reforçou. Aqui na Liberdade não vejo eles se aglomerando, ou fazendo seus famosos festivais, desde o início da pandemia. Isso é um reflexo cultural”, afirmou a podóloga Simone Martins, 38 anos, moradora do bairro há cerca de duas décadas.

Apesar de a comunidade nipônica respeitar o isolamento, aos fins de semana o fluxo de pessoas, a maioria de fora do bairro, aumenta muito na região, como constatou o turista José Igor Paulino, 26 anos.

Ele veio à capital paulista na quinta-feira (15), junto com a namorada e parentes dela, e iria voltar para Fortaleza, sua terra natal, por volta das 18h desta segunda-feira. “Viemos para a Liberdade no sábado [17], mas estava aglomerado de gente e decidimos voltar hoje [segunda] para conhecer o bairro com mais calma, antes de voltar para o Ceará”, explicou.
Paulino, que trabalha como vendedor no Nordeste, está de férias e afirmou que, por isso, pretende acompanhar a Olimpíada, que pelo fato de ocorrer do outro lado do mundo, terá as provas transmitidas durante a madrugada e no início da manhã, no Brasil.

O comerciante Marcelo Rufulo, 66, afirmou frequentar o bairro da região central desde de quando tinha 3 anos de idade. Além disso, ele gerencia uma lanchonete desde 2009, ao lado da estação de metrô, que leva o nome do bairro. “Vou ser sincero. Não tem nada aqui na Liberdade indicando que a Olimpíada começa na sexta”,afirmou.

Ele disse ainda que “não está no clima”, acrescentando não pretender acompanhar nenhuma das disputas. “Isso só vai acontecer se algum cliente pedir para ligar a televisão da lanchonete, mas acho difícil, ainda mais que a maioria das disputas ocorre de madrugada”, ressaltou.

Apesar de a abertura oficial da Olimpíada de Tóquio ser na sexta, algumas modalidades começam a ser disputadas três dias antes. O evento ocorre até 8 de agosto.

Paulo Wanderley, presidente do Comitê Olímpico do Brasil, afirmou em nota que, neste ano, 302 atletas irão representar o Brasil nos jogos, sendo a maior delegação do país desde 2008, quando 277 participaram da Olimpíada de Pequim, na China.

Clima Zero na 25 de Março

A rua 25 de Março, também no centro de São Paulo, é um termômetro do engajamento dos paulistanos em eventos, como Copa do Mundo e Olimpíada, além de festas populares. Nesta segunda, porém, o clima olímpico na região era zero, segundo constatado pelo reportagem.

Apesar de estar cheia de vendedores e possíveis compradores, foi difícil achar alguma barraca que remetesse a algum esporte na rua de comércio popular. Após cerca de dez minutos de caminhada, por volta das 11h30, a reportagem encontrou Ezequiel Santos Silva, 34, vendendo camisetas de times de futebol, na altura do número 969.

Ele desconhecia a data da abertura da Olimpíada, até ser informado pela reportagem. “Sinceramente, sabia que ia ter Olimpíada neste ano, mas não sabia a data não. E, cá entre nós, aqui na [rua] 25 de Março está zero o engajamento do povo para isso.”

Silva acrescentou que suas vendas aumentaram em cerca de 10%, nas últimas duas semanas, mas atribui isso à final da Eurocopa, vencida pela Itália, no último dia 11, após cobranças de pênaltis contra a Inglaterra.

Da mesma forma que o ambulante, a vendedora Amanda Rodrigues, 38, soube a data oficial da abertura do evento esportivo após ser informada pela reportagem. “Na outra Olimpíada [de Pequim] chegaram produtos relacionados. Mas neste ano, não chegou nada. Estamos repondo algumas camisetas do Brasil, mas não tem nada relacionado à Olimpíada”, afirmou.

Apesar disso, ela acrescentou que pretende “se sacrificar” em alguma madrugada para acompanhar as equipes de vôlei brasileiras.