YouTube tem no ar ao menos 1.701 vídeos com ataques ao sistema eleitoral, diz estudo – Mais Brasília
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YouTube tem no ar ao menos 1.701 vídeos com ataques ao sistema eleitoral, diz estudo

Vídeo com maior número de visualizações é o que contém a live do presidente Jair Bolsonaro de 29 de julho de 2021

urnas; eleição
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil Fonte: Agência Câmara de Notícias

O YouTube mantém no ar pelo menos 1.701 vídeos com ataques ao sistema eleitoral brasileiro e acusações infundadas de fraude nas urnas.

Juntos, esses vídeos acumulam, até hoje, 67,7 milhões de visualizações e 368.955 comentários, segundo levantamento do pesquisador Marcelo Alves, professor do Departamento de Comunicação da PUC do Rio.

Segundo o estudo, o canal com maior número de visualizações de vídeos com ameaças à integridade eleitoral é o Pingos nos Is, com 15,7 milhões de visualizações, seguido de Folha Política (12,6 milhões), Jovem Pan News (2,5 milhões), Foco do Brasil (2,3 milhões) e Bolsonaro TV (2,2 milhões).

O vídeo com maior número de visualizações é o que contém a live do presidente Jair Bolsonaro de 29 de julho de 2021, em que ele disse que apresentaria o que ele chamava de provas das suas alegações de fraude na eleição de 2018, mas mostrou apenas boatos que circulam há anos na internet e já foram desmentidos anteriormente. O conteúdo teve 1,3 milhão de visualizações.

Em segundo lugar está um vídeo sobre “delegado que apresenta documento sobre urnas adulteradas”, com 1,2 milhão de visualizações.

O YouTube não tinha política de remover conteúdo com acusações falsas de fraude eleitoral no Brasil em 2018 –a proibição de vídeos com alegações de irregularidades só valia para os Estados Unidos e Alemanha.

Nesta terça (22/3), a plataforma anunciou que começará a remover todos os vídeos que contenham alegações falsas de fraudes, erros ou problemas técnicos na eleição de 2018, inclusive de forma retroativa, atingindo os que já estão publicados na plataforma.

Bolsonaro e seus aliados protagonizam inúmeros vídeos com afirmações não comprovadas de que houve fraudes eleitorais e a urna eletrônica foi adulterada em 2018, e esse conteúdo é passível de remoção.

“A nova política do YouTube é um reconhecimento da gravidade da situação e um passo positivo na direção de se engajar em reduzir os potenciais impactos que o conteúdo criado e veiculado e plataforma podem ter”, diz Alves.

“Ao mesmo tempo, é muito importante que essas regras sejam aplicadas. Já vimos outras regras serem desenvolvidas, sem a efetiva aplicação.”

Grande parte dos vídeos mapeados pelo estudo seria passível de remoção segundo as novas regras do YouTube.
Alves aponta, no entanto, que a nova política do YouTube só se refere à eleição de 2018, então vídeos que lançam dúvidas sobre o processo de forma estrutural e futura não seriam removidos.

O estudo foi realizado por meio de extração de dados e análise de vídeos de 182 canais de direita e de apoio ao presidente Bolsonaro e aliados do mandatário, além de veículos de imprensa que veicularam manifestações golpistas ou disseminaram acusações infundadas de fraude eleitoral.

O mapeamento foi feito através de busca de palavras do título, descrição e das legendas dos vídeos.

Os únicos veículos de imprensa tradicional incluídos foram Jovem Pan News e Gazeta do Povo, nos quais foram analisados vídeos com afirmações falsas ou ameaças contra o sistema eleitoral.

O monitoramento detectou palavras e expressões como artigo 142, voto impresso, prisão e impeachment de ministros do STF, e fechamento do Supremo, urna eletrônica, fraude eleitoral, fraude nas urnas.

O levantamento considera vídeos publicados entre janeiro de 2020 e março de 2022. No período, havia outros 296 vídeos que continham ataques à integridade eleitoral, mas foram tornados privados ou retirados privados. Esses vídeos somavam 12,7 milhões de visualizações.

Segundo Alves, os dados indicam que o YouTube funciona como um repositório desses vídeos de ataque à integridade eleitoral, que são constantemente circulados e recirculados por aplicativos de mensagens como Telegram e WhatsApp.

Procurado, o YouTube afirmou que não teve acesso prévio à pesquisa e, portanto, não poderia comentar sobre os resultados.

“Elaboramos um sólido conjunto de políticas –incluindo a Política de Integridade Eleitoral e Supressão de Eleitores, atualizada ontem– e sistemas para dar visibilidade ao conteúdo confiável e reduzir a disseminação de informações enganosas, sem limitar a realização do debate público, a liberdade de expressão e a proteção da variedade de vozes na plataforma”, disse a empresa em comunicado.

“Lembrando que usamos uma combinação de inteligência de máquina e pessoas para aplicar essas políticas. Isso significa que fazemos uma avaliação cuidadosa sobre nossas remoções e permitimos que qualquer usuário logado possa denunciar um vídeo; por outro lado, os criadores podem apelar das nossas decisões.”

Por Patrícia Campos Mello