Aliados tentam livrar Ibaneis de culpa por ataques golpistas e criticam Torres

O ex-secretário foi preso na manhã deste sábado (14) pela Polícia Federal ao retornar dos Estados Unidos

Integrantes do Governo do Distrito Federal atribuem as falhas que levaram a invasões e ataques às sedes dos três Poderes no último domingo (8) à atuação do ex-secretário de Segurança Pública, Anderson Torres, e buscam eximir de culpa Ibaneis Rocha (MDB-DF), afastado do comando da gestão.

Aliados de Ibaneis avaliam estar “claríssimo” que houve responsabilidade de Torres nas cenas de depredação e vandalismo.

O ex-secretário foi preso na manhã deste sábado (14) pela Polícia Federal ao retornar dos Estados Unidos. Ele é primeiro a ocupar o cargo de ministro da Justiça a ser preso desde a redemocratização e o primeiro integrante do governo de Jair Bolsonaro (PL) preso em consequência dos atos antidemocráticos.

Além de culpar Torres, pessoas mais próximas de Ibaneis insinuam ainda que o ex-secretário de Segurança Pública teria armado para o governador afastado.

Como exemplo, dizem que Torres exonerou parte da cúpula da secretaria, que havia organizado a preparação para a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), assim que assumiu. Da mesma forma, desativou o núcleo de inteligência que havia na pasta e trouxe funcionários do Ministério da Justiça.

O discurso do grupo político de Ibaneis é que Torres teria desestruturado a segurança do DF e viajado para os Estados Unidos, deixando o governador afastado de “mãos atadas”.

A expectativa de aliados de Ibaneis é que ele conseguirá se livrar na Justiça das acusações de não ter atuado para impedir os ataques golpistas. A estratégia é mostrar a responsabilidade do ex-secretário nas falhas da segurança do Distrito Federal.

Questionado se sentia-se vítima de uma sabotagem praticada por Torres, Ibaneis afirmou: “De toda a equipe da segurança, que descumpriu o plano de contingência estabelecido em reuniões conjuntas ocorridas nos dias 6 e 7”.

Ao responder se haveria indícios dessa sabotagem, o governador afastado acrescentou: “Basta olhar os vídeos. A polícia militar não agiu como das vezes anteriores. Houve sabotagem”.

Nesta quinta-feira (12), a Folha revelou que a Polícia Federal encontrou na casa de Torres uma minuta de decreto para o então presidente Bolsonaro instaurar estado de defesa na sede do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). O objetivo seria reverter o resultado da vitória eleitoral de Lula, numa medida inconstitucional.

Um integrante da cúpula do governo do DF ainda exime de culpa o ex-comandante da Polícia Militar, Fábio Augusto, que foi preso por ordem do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), Alexandre de Moraes.

Segundo essa pessoa, a PM em Brasília atua de forma bastante hierarquizada, respondendo às ordens disparadas pela Secretaria de Segurança. Como na ocasião, a diretriz era de que os atos seriam pacíficos, a polícia se organizou da forma como poderia para suprir as necessidades postas.

Integrantes do GDF acreditam que Fábio Augusto será capaz de provar que seguiu ordens que foram disparadas pela pasta de Segurança. Aliados de Ibaneis dizem que, durante os ataques do último domingo, Fábio Augusto teria dito que não tinha recebido um plano de atuação diante das invasões nos prédios e da escalada do vandalismo em Brasília.

Poucas horas após a invasão aos prédios, Ibaneis exonerou Torres do comando da Secretaria de Segurança Pública, uma semana após a nomeação.

Nesta semana, enquanto o governador está afastado pelo STF, integrantes do GDF e deputados distritais defenderam a atuação de Ibaneis em eventos públicos. O alvo de ataques tem sido “erros e falhas de algumas pessoas” -sem citar nominalmente Torres.

Ibaneis foi reeleito em primeiro turno. Ele contou com o apoio do ex-presidente Bolsonaro e de aliados dele, como a senadora eleita, Damares Alves (Republicanos).
Antes de Ibaneis nomear Torres, ele havia sido alertado por ministros do STF e também do governo Lula sobre o risco de efetivar Torres na pasta.

Havia o receio entre magistrados que Torres pudesse ser conivente com alguma empreitada de apoiadores de Bolsonaro contra os Poderes.
A desconfiança resultava de ações do ex-ministro ao longo do governo Bolsonaro.

Por isso, antes de ser exonerado, ele já estava na mira do governo Lula e integrantes do Supremo, que temiam pela atuação dele na secretaria. Na semana passada, o ministro Flávio Dino editou uma norma que abria espaço para que ele não permanecesse à frente do órgão do DF.

Segundo a regra, qualquer servidor vinculado ao Ministério da Justiça que respondesse a inquéritos, ações penais e processos administrativos, entre outros, não poderia ser cedido a outro órgão.
Torres, policial federal, também já estava na mira das investigações relatadas por Alexandre de Moraes.

Ele foi ouvido e apontado como um dos envolvidos na organização da live de 29 de julho de 2021, quando o então presidente Jair Bolsonaro levantou suspeita sobre a segurança das urnas sem apresentar provas.

Por Julia Chaib, Thiago Resende e Catia Seabra 

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