Ex-secretário de Segurança diz que não podia combater crimes no acampamento do QG e que GDF apoiou Exército – Mais Brasília
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Ex-secretário de Segurança diz que não podia combater crimes no acampamento do QG e que GDF apoiou Exército

Júlio Danilo ainda relembrou que o Exército Brasileiro cancelou operações para desmobilizar o acampamento bolsonarista

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Em depoimento a CPI dos Atos Antidemocráticos, na Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF), na manhã desta quinta-feira (23), o ex-secretário de Segurança Pública do DF e delegado federal, Júlio Danilo Souza Ferreira, disse que o Exército Brasileiro pediu à secretaria que prestasse auxílio ao acampamento bolsonarista, instalado em frente ao Quartel-General, em Brasília.

Segundo o ex-secretário, o Comando Militar do Planalto, à época chefiado pelo general Gustavo Henrique Dutra de Menezes, solicitou à secretaria de Segurança Pública do DF que prestasse apoio aos bolsonaristas e disponibilizasse bombeiros militares, agentes para organizar o trânsito da região, profissionais do serviço de limpeza urbana para remover o lixo, agentes do DF Legal para coibir venda por ambulantes, policiais para realizar a segurança local. Ainda segundo informou o ex-secretário do DF, todo o auxílio solicitado pelo Exército aos bolsonaristas foi disponibilizado.

Júlio Danilo ainda relembrou que o Exército Brasileiro cancelou operações para desmobilizar o acampamento bolsonarista, como a operação do no dia 29 de dezembro. O ex-secretário ressaltou que não podia remover o acampamento porque ele estava instalado em uma área que pertence ao Exército Brasileiro.

“O general Dutra disse que não poderíamos desmontar o acampamento. Era uma área do Exército. Portanto, precisava haver essa cooperação e o GDF não poderia agir no local. Por vezes, as operações que tentamos realizar ali foram interrompidas porque ele dizia que tinha recebido ordem para que não fosse realizada naquele dia a desobstrução, que eles fariam por conta deles”, contou. Ele admitiu que, no início, considerava o acampamento como “uma manifestação comum”.

Questionado acerca de quem seria a culpa pelos atos de vandalismo, o ex-secretário esquivou-se:

“Eu tenho total confiança nas forças de segurança do DF. Agora, se houve erro, nós vamos detectar, identificar os responsáveis e que eles sejam punidos ”.

Para o relator da CPI, deputado Hermeto (MDB), a organização dos atos do dia 8 de janeiro ocorreu no acampamento em frente ao QG. “Tinha muito bandido ali dentro”, reforçou. Ele também voltou a defender a oitiva de generais do Exército para esclarecimento à CPI.

Para o deputado Fábio Felix (Psol), os atos foram planejados com antecedência e envolveu autoridades: “A linha do tempo hoje nos mostra que houve uma longa preparação desse grupo extremista, golpista, para efetivar atos extremos e tentativa de golpe de Estado nesse país. Essa CPI tem obrigação de investigar prevaricação por parte de autoridades públicas. Houve omissão, incitação e planejamento intelectual de altas autoridades da República”.

12 de dezembro

Sobre o episódio de violência do dia 12 de dezembro, quando vândalos ameaçaram invadir a sede da Policia Federal e queimaram veículos no centro de Brasília, Júlio Danilo, então secretário de Segurança, disse que foi ao local e que foi determinada ação rápida da Polícia Militar.

Em resposta ao presidente da CPI, deputado Chico Vigilante (PT), sobre o fato de não ter havido prisões no dia dos atentados, ele disse que “a primeira missão era restituir a ordem pública”. Dessa forma, a preocupação inicial foi a de “dispersar” os vândalos.

Segundo o ex-secretário, houve um atraso na atuação dos policiais porque não se tinha informações sobre o risco dos atos.

“No dia seguinte, por determinação minha, foi realizada reunião na SSP, com Polícia Civil, Polícia Federal e Polícia Militar para traçar um plano de responsabilização dos envolvidos”, justificou, destacando que a operação resultou em prisões após alguns dias.

À frente da pasta durante o período entre março de 2021 e dezembro de 2022, Júlio Danilo foi exonerado um dia antes da posse do segundo mandato de Ibaneis Rocha (MDB), para que Anderson Torres, preso desde o dia 14 de janeiro, investigado por envolvimento nos atos golpistas de 8 de janeiro, assumisse a pasta.