Festival de Veneza premia filme francês sobre aborto com o Leão de Ouro – Mais Brasília
FolhaPress

Festival de Veneza premia filme francês sobre aborto com o Leão de Ouro

'L'Evénement' é dirigido pela franco-libanesa Audrey Diwan; mostra premiou ainda Jane Campion e Paolo Sorrentino

Foto: Reprodução

O controverso filme “L’Evénement”, da franco-libanesa Audrey Diwan, levou o Leão de Ouro no Festival de Veneza.

A obra conta a história de uma garota francesa nos anos 1960 que engravida e não quer ter o bebê. Sem poder contar com o amparo de amigas, parentes ou mesmo o pai da criança, a protagonista precisa enfrentar sozinha uma série de dificuldades para fazer o aborto.

O filme é uma clara defesa de uma mulher poder abortar. Lembra o da americana Eliza Hittman, premiado com o Grande Prêmio do Júri em Berlim no ano passado, “Nunca, Raramente, Às Vezes, Sempre”, que tem temática semelhante. Mas o fato de o longa ter levado o prêmio mostra o quanto a discussão sobre o aborto ainda é necessária e está na ordem do dia.

O Grande Prêmio do Júri foi concedido ao filme “A Mão de Deus”, do italiano Paolo Sorrentino. Um dos mais elogiados do festival, a obra traz o cineasta revisitando sua própria história, mostrando um jovem em uma jornada iniciática na Nápoles da década de 1980, quando Maradona jogou na cidade e se tornou um ídolo quase divino para seus habitantes.

O promissor Flippo Scotti, que interpreta o alter ego de Sorrentino no longa, foi laureado com o prêmio Marcello Mastroianni, dedicado a intérpretes em início de carreira.

A neozelandesa Jane Campion ganhou o troféu de melhor direção, por “The Power of the Dog”. Até o início deste ano ela era a única mulher a vencer uma Palma de Ouro em Cannes, por “O Piano”, em 1993 –a francesa Julia Ducourneau tornou a segunda vencedora no evento deste ano, com “Titane”.

Campion desta vez adapta um romance de Thomas Savage, mostrando dois irmãos muito diferentes, no começo do século 20, no Oeste dos EUA. Enquanto um deles se apaixona pela dona de um pequeno restaurante, o outro permanece com um comportamento agressivo e pouco civilizado, que logo se desencavará problemas de autoaceitação.

O Prêmio Especial do Júri foi para “Il Buco”, do italiano Michelangelo Frammartino. Com pouquíssima ação, mostra um grupo de geólogos chegando a uma caverna na Calábria, sul da Itália, para descobrir o que tem em seu fundo. Paralelamente, o espectador é apresentado à rotina de um velho camponês, com belas imagens da paisagem calabresa.

O diferencial do longa é justamente a forma como o cineasta apresenta essas imagens, sempre convidando o público a perceber de modo diferenciado o que uma imagem tem a oferecer.

A espanhola Penélope Cruz foi eleita a melhor atriz, por sua formidável performance em “Madres Paralelas”, de Pedro Almodóvar. Ela interpreta uma mulher que vive uma aventura amorosa e engravida, mas depois de ter a criança, vê-se diante de uma série de situações inesperadas, que colocam à prova sua figura de mãe.

Dizer mais detalhes sobre a personagem poderia incorrer em spoilers, mas o fato é que “Madres Paralelas” permite à atriz uma das melhores atuações em sua carreira. Com a láurea, a espanhola, que ganhou o Oscar de atriz coadjuvante em 2009, por “Vicky Cristina Barcelona”, sai na frente pela disputa da estatueta dourada, agora na categoria de atriz principal.

O prêmio de melhor ator surpreendeu: foi entregue ao filipino John Arcilla, por “On the Job: the Missing 8”, de Erik Matti. Ele interpreta o enérgico jornalista que defende em seus programas de rádio com unhas e dentes um homem poderoso, mas que muda de ideia quando percebe que o sujeito é capaz de atitudes atrozes.

A atriz Maggie Gyllenhaal foi agraciada com o prêmio de melhor roteiro, por “The Lost Daughter”, que marca sua estreia como cineasta. O filme é uma adaptação do romance “A Filha Perdida”, da italiana Elena Ferrante, que mostra uma mulher de férias em uma praia que, ao observar de longe uma moça mais jovem com sua filha pequena, começa a pensar sobre sua própria relação com as filhas.

O júri foi presidido pelo sul-coreano Bong Joon-Ho, diretor de “Parasita”, e trazia como membros a atriz britânica Cynthia Erivo e a cineasta chinesa Chloé Zhao, vencedora das últimas premiações do Oscar e do Festival de Veneza por “Nomadland”.

Por Bruno Ghetti