De crise energética a instabilidade política, os principais pontos que prejudicam o PIB – Mais Brasília
FolhaPress

De crise energética a instabilidade política, os principais pontos que prejudicam o PIB

Vejas as principais questões levantadas por economistas

Foto: Marcello Casal/Agência Brasil

 

O resultado do PIB abaixo das estimativas do governo e do mercado financeiro acendeu o alerta sobre diversos riscos para a recuperação da economia em 2021. Entre eles, as crises hídrica, provocada por problemas climáticos, e político-institucional, alimentada pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

Há também preocupações relacionadas com o fim do auxílio emergencial, um possível recrudescimento com a crise sanitária por causa da variante Delta do Coronavírus e a continuidade da falta de insumos para a indústria, além da alta dos juros, da inflação e o ainda elevado nível de desemprego.

Veja as principais questões levantadas por economistas após a divulgação de que o PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil encolheu 0,1% no segundo trimestre, na contramão da recuperação vista em diversos outros países no mesmo período.

CRISE HÍDRICA E ENERGÉTICA
O aumento da conta de luz e seu impacto sobre a inflação já prejudicou o resultado do segundo trimestre, segundo o próprio IBGE, pois reduziu ainda mais o poder de compra das famílias e ajudou a deixar o consumo estagnado. Um possível racionamento (o próprio presidente já falou no risco de algumas usinas pararem) levaria à redução da atividade econômica.

Em relatório, o Bank of America diz esperar que a atividade econômica continue mostrando moderação no terceiro trimestre, devido a fatores como fim do auxílio emergencial, aumento do ruído político, escassez de insumos e baixos níveis dos reservatórios de água. A instituição manteve a projeção de crescimento da economia em 5,2% neste ano e 2,1% em 2022.

O Goldman Sachs revisou a estimativa de 2021 de 5,4% para 4,9%, considerando que não haverá grandes limitações no fornecimento de energia e contando como uma gradual normalização na cadeia de suprimentos e um quadro de controle da pandemia.

CRISE INSTITUCIONAL
As ameaças de desrespeito à Constituição e contra outros Poderes por parte do presidente Jair Bolsonaro também são vistas como um risco para a recuperação da economia.

“Existe uma tensão permanente entre o Executivo e o Judiciário, que aumenta o risco institucional e afeta negativamente os preços dos ativos, principalmente dólar e juros. Associados ao risco político, ainda teremos o risco eleitoral cada vez maior no próximo ano”, afirma a Genial Investimentos.

“A resistência da inflação e a incerteza na capacidade do governo de controlar o déficit público inibem novos investimentos. E a intranquilidade institucional das últimas semanas não contribui para uma recuperação sustentável da atividade econômica. Esse cenário adia decisões de investimento que resultariam em novas obras para sustentar a retomada do setor”, diz Eduardo Zaidan, vice-presidente de Economia do SindusCon-SP (sindicato da construção).

CIRSE SANITÁRIA
Ao comentar o resultado do PIB, o ministro Paulo Guedes (Economia) disse que o segundo trimestre foi o período mais trágico da pandemia e que o desempenho econômico “andou de lado”. Para muitos analistas, as projeções de retomada dependem de uma melhora nos números sobre mortes e contaminações, que permita manter a reabertura da economia.

De acordo com a Genial Investimentos, nas economias avançadas, o intervalo entre a identificação da variante Delta e o aumento expressivo dos casos ocorreu em média 90 dias depois. “Dessa forma, é particularmente importante monitorar a pandemia no mês de setembro -a Delta foi identificada no país em junho.”

ESCASSEZ DE INSUMOS INDUSTRIAIS
A escassez de insumos é apontada como um dos fatores que explicam o recuo da indústria brasileira no segundo trimestre.
“A indústria de transformação é influenciada pelos efeitos da falta de insumos nas cadeias produtivas, como é o caso da indústria automotiva, que lida com a falta de componentes eletrônicos. É uma atividade que não está conseguindo atender a demanda”, disse Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE.

QUEDA NA RENDA E DESEMPREGO
Motor da economia brasileira, o consumo das famílias ficou estagnado no segundo trimestre. Para os próximos meses, são considerados riscos o fim do auxílio emergencial, a alta dos juros, da inflação e o ainda elevado nível de desemprego.

Em relatório, o Banco Original afirmou que, pela perspectiva da demanda, o consumo das famílias foi o que mais decepcionou, refletindo problemas como aumento inflacionário e desemprego elevado.

“O número [0%], no entanto, reforça o entendimento de que ainda existe uma boa parte da poupança circunstancial feita pelas famílias mais ricas durante a pandemia que não foi gasta”, acrescentou o banco.
Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, afirma que o contexto de juros e inflação em alta prejudica o consumo das famílias, mas que o ritmo de vacinação pode ser o grande ativo para garantir a recuperação da economia no segundo semestre do ano.

RÁPIDA REDUÇÃO DE ESTÍMULOS NO EXTERIOR
A Genial Investimentos vê ainda o risco de o banco central americano (Fed) promover o processo de redução de estímulos econômicos de forma rápida, o que tornaria o cenário mais desafiador para os países emergentes. “Entretanto, em nossa avaliação, esse processo será de forma gradual e a taxa básica permanecerá próxima a zero por um longo período.”

Texto: Eduardo Cucolo e Leonardo Vieceli