Guedes diz que nunca xingou servidores e pede apoio à reforma administrativa

Ministro relembra episódio em que comparou categoria a 'parasita' e diz que proposta moderniza setor

O ministro Paulo Guedes (Economia) negou nesta quarta-feira (24/11) que tenha xingado servidores públicos e pediu a eles apoio para a aprovação da reforma administrativa, proposta do governo que cria regimes de vínculo empregatício mais flexíveis com o Estado e estabelece avaliações de desempenho.

Em discurso na abertura de seminário virtual da Corregedoria do Ministério da Economia, o ministro relembrou o episódio que ficou conhecido por ele ter feito uma comparação entre a figura do servidor e a de um parasita.

“Eu estava fazendo um discurso a respeito da necessidade de controlarmos os gastos dos entes das unidades subfederativas [estados e municípios]. Tem centenas de municípios que não conseguem sequer pagar a própria folha […]. E eu disse que isso é como se fosse uma unidade que está ficando parasitária”, afirmou nesta quarta.

“E na memória [das pessoas ficou que estava] xingando os funcionários públicos. Eu nunca xinguei, minha mãe foi funcionária pública a vida toda, tem 99 anos. Estou experimentando o convívio com gente extraordinária [do serviço público]”, disse.

Em fevereiro de 2020, Guedes afirmou que o governo, mesmo “quebrado”, é obrigado a dar aumento aos servidores. “O funcionalismo teve aumento de 50% acima da inflação, além de ter estabilidade na carreira e aposentadoria generosa. O hospedeiro está morrendo, o cara virou um parasita”, disse, defendendo o fim dos reajustes automáticos.

Atualmente, os servidores estão com reajustes congelados por causa do pacote aprovado durante a pandemia para liberar recursos para os mais vulneráveis.

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou que tem intenção de dar aumentos no ano que vem, mas não há espaço no Orçamento por causa do teto de gastos –mesmo com a expansão a ser gerada pela PEC (proposta de emenda à Constituição) dos Precatórios.

Enquanto isso, Guedes tenta estimular a ideia de avanço da reforma administrativa. Mas entre os próprios aliados do governo há resistências.

“Propusemos uma reforma administrativa sem tirar nenhum direito do serviço público atual”, disse Guedes nesta quarta (24). “Peço apoio do nosso funcionalismo porque estamos falando de modernização do serviço público, digitalização, maior produtividade e meritocracia”, afirmou.

O governo tem pouco tempo para aprovar uma reforma administrativa, enquanto as principais atenções neste momento estão voltadas à PEC dos Precatórios. O ano que vem deve ser tomado pelo cenário eleitoral. O próprio Bolsonaro já afirmou que, caso a proposta não seja aprovada em 2021, vai ficar para quem vencer as próximas eleições presidenciais.

No último dia 16, o presidente da Câmara, Arthur Lira, afirmou que a reforma administrativa está pronta para ser apreciada em plenário, mas disse que é preciso mobilização do governo. “O ministro Paulo Guedes, numa fala própria dele, tem que mobilizar o governo para que o governo se mobilize se quer ou não ajudar na reforma administrativa”, disse Lira.

“Por enquanto, é o que eu venho dizendo. Eu não noto nem na sociedade civil organizada, nem no governo uma disposição de enfrentar esse tema agora”, disse Lira. Segundo ele, agradando ou não a todos, a reforma precisa de mobilização para ir à frente

Por Fábio Pupo

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