Petrobras vive dilema entre reajuste e escassez – Mais Brasília
FolhaPress

Petrobras vive dilema entre reajuste e escassez

O mercado já tem projetado que o barril de petróleo chegue a US$ 130 no médio prazo

Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Em um cenário de alta de preços do petróleo no mercado internacional e de inflação em 12 meses na casa dos dois dígitos no Brasil, o reajuste dos combustíveis virou um dilema para a Petrobras.

Por um lado, caso ela não atualize seus preços, as empresas importadoras podem acabar deixando de trazer o combustível mais caro no exterior. Segundo o setor, a importação responde, hoje, por cerca de 30% do fornecimento de diesel no país.

O mercado já tem projetado que o barril de petróleo chegue a US$ 130 no médio prazo. Algumas estimativas apontam que ele poderia chegar a US$ 150 no fim do ano, segundo relatório recente do Morgan Stanley.

“Com a alta no câmbio e nos preços de referência do óleo diesel e da gasolina no mercado internacional, os cenários das defasagens se afastaram da paridade, o que inviabiliza as importações”, disse a Abicom (Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis) no início da semana.

Em entrevistas recentes, o presidente da entidade, Sérgio Araújo, tem reafirmado que o risco de escassez preocupa e se dá justamente pela falta de paridade entre os preços internos e externos. A falta de reajustes da Petrobras faz com que as importadoras deixem de trazer o diesel, diz ele.

Em contrapartida, o aumento para reduzir a defasagem nos preços dos combustíveis impacta na inflação e pesa direta e indiretamente no bolso dos brasileiros, em um momento sensível para o presidente Jair Bolsonaro (PL).

Ele deve tentar a reeleição em outubro, e precisa dar uma resposta aos eleitores, que veem seu poder de compra cada vez mais estrangulado pela inflação.

Os combustíveis já têm tido impacto significativo na alta de preços -o peso deles no IPCA, a inflação oficial do país, chegou a 8,13% em maio, ante 7,96% no mês anterior.

Apenas a gasolina chegou a 6,81% do IPCA em maio, sendo que no mesmo período de 2020, esse percentual era de 4,59%.

Antes dos aumentos anunciados nesta sexta-feira (17), os preços do diesel nas refinarias não eram reajustados desde maio; os da gasolina, desde março.

A pressão do governo para evitar os reajustes tem sido grande: na última quinta-feira (16), em sua live semanal, Bolsonaro disse que a estatal tem “sanha” por reajustar preços. Nesta sexta, pouco antes do anúncio do novo aumento, o presidente afirmou que a empresa jogaria o país no caos.

Ele também chegou a dizer que estaria se articulando com a Câmara para a criação de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar o presidente da estatal, José Mauro Ferreira Coelho.

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), é outro que tem investido contra a petroleira, chegando a pedir a renúncia do presidente da Petrobras e a dizer que “vai para o pau” para “reverter preços”.