Alicinha Cavalcanti revolucionou as festas da alta sociedade brasileira – Mais Brasília
FolhaPress

Alicinha Cavalcanti revolucionou as festas da alta sociedade brasileira

A primeira e maior promoter do Brasil e sua lista de contatos revolucionaram a forma de se realizar eventos da alta sociedade, em especial no eixo Rio-São Paulo

Alicinha Cavalcanti
Reprodução

Quem brilhou na noite paulistana e foi presença ilustre em grandes eventos do Brasil nos anos 1980, 1990 e 2000 certamente tinha seu nome e seus contatos marcados na famosa agenda de Alicinha Cavalcanti.

A primeira e maior promoter do Brasil e sua lista de contatos revolucionaram a forma de se realizar eventos da alta sociedade, em especial no eixo Rio-São Paulo. A sua morte, ocorrida nesta segunda-feira (2/8), causou grande repercussão entre apresentadores, atores, cantores, escritores e socialites.

Alice Cavalcante nasceu em São José do Rio Preto, em 1962. Aos 15 anos deixou a cidade rumo ao Rio de Janeiro em busca de liberdade. Na Cidade Maravilhosa, tornou-se amiga de ícones da música como Cazuza e Lulu Santos, fato contado em entrevista à jornalista Marília Gabriela, em 2014.

Apesar de ter nascido no interior de São Paulo, gostava de exaltar a ascendência cearense, dizendo que dali vinham a simpatia e o desembaraço para lidar com as pessoas. Ela deixaria de ser Alice e se tornaria definitivamente Alicinha, ao conhecer José Victor Oliva, 67.

Nos anos anos 1980 e 1990, o empresário era chamado de Rei da Noite Paulistana por comandar algumas das casas noturnas mais badaladas de São Paulo, como Resumo da Ópera, Moinho Santo Antônio e The Gallery -conheceu Alicinha nesta última. O primeiro encontro se deu em uma festa a fantasia realizada por Marília Gabriela no local.

Alicinha contava que gostou tanto do ambiente e tudo que viu no lugar que procurou Oliva, pedindo para fazer o aniversário ali. Ele perguntou se ela tinha dinheiro e, diante da negativa, o empresário teve a ideia de ceder o espaço para ela numa segunda-feira, na qual a agenda da casa noturna estaria vazia, desde que ela trouxesse a bebida e enchesse o local. Impressionado com a animação das pessoas da festa, ele quis saber onde a jovem, que na época tinha 20 anos, tinha conseguido tanta gente. Alicinha explicou que eram contatos da agenda dela.

“Desde pequena tenho o hábito de anotar o nome das pessoas. Nem sabia para que ia servir minha caderneta de onça”, relembrou na mesma entrevista, salientando que, naquela época, não havia tecnologia e que, portanto, celular e email não faziam parte da realidade. Nascia ali a primeira e mais famosa promoter do Brasil, que chegou a ter mais de 17 mil nomes de celebridades entre seus contatos.

Durante 25 anos, Alicinha foi a responsável pela lista que dava acesso ao camarote da Brahma, no Rio de Janeiro. Ela também integrou a diretoria da Grande Rio, escola de samba pela qual desfilou por muitos anos. “Penso que [uma festa boa] é um mix, porque se você convidar só um grupo sempre, ele pode se reunir nas casas deles”, disse, ao explicar que uma reunião interessante deveria contar com pessoas de tribos e idades diferentes.

Em 2004, conheceu no trabalho, que era sua grande paixão, Rodrigo Biondi, que se tornaria seu marido e com quem ficaria até o fim da vida. “O fato de nós dois trabalharmos no mesmo ramo facilita muito o relacionamento. Nos entendemos perfeitamente. E nem há espaço para termos ciúmes”, disse a promoter em entrevista à revista Caras, em 2010.

Em 2007, decidiu que não queria ser mãe após uma gestação tubária que a levou a sofrer três paradas cardíacas. “Fiquei com medo. Desde aquela época interrompi minha menstruação, porque teria o risco de outra gravidez como essa”, contou a Marília Gabriela, destacando que, embora gostasse de crianças, tinha consciência que o estilo de vida dela também não combinaria com a maternidade.

“Quando decidi isso fiquei vendo os prós e contras e encontrei o Rodrigo que também não tem interesse [em ter filhos]. Queremos viajar sem ter hora para nada. Você tem que estar disponível para a criança por um certo tempo e depois a vida toda”, ponderou.

Alicinha morreu nesta segunda-feira (2), aos 58 anos, anos após ter o diagnóstico de duas doenças degenerativas: a Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) e a Afasia Progressiva Primária (APP). A primeira é uma doença degenerativa que provoca a destruição dos neurônios responsáveis pelo movimento dos músculos voluntários, levando a uma paralisia progressiva. Já a segunda é uma síndrome neurológica rara que se relaciona a um quadro degenerativo do cérebro.

Ela foi homenageada por amigos famosos e muitos deles, entre os tributos, lembraram que Biondi permaneceu ao lado de Alicinha até o fim. “Teve a sorte grande de ter um marido especial e amoroso durante 16 anos, o Rodrigo Biondi, seu companheiro até o último suspiro”, compartilhou a apresentadora Marília Gabriela, 73, no Instagram.

“Meus sinceros sentimentos ao Rodrigo que esteve com ela nessa luta num dos pactos de AMOR mais lindo que vi”, compartilhou na mesma rede social a jornalista Astrid Fontenelle, 60. “Ela não queria que as pessoas a vissem, não queria receber visita, nem que soubessem da doença. Ela chegou a falar para o Rodrigo que não queria velório, nada disso, e ele vai tocar como ela queria, não tem outra opção”, emendou Fontenelle em entrevista à Marie Claire, referindo-se ao marido de Alicinha.