Ana Hikari diz usar visibilidade para ampliar militância – Mais Brasília
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Ana Hikari diz usar visibilidade para ampliar militância

Atriz já abordou assuntos como a falta de descendentes asiáticos na TV e até sua sexualidade

Ana Hikari
Foto: Reprodução/Twitter

A atriz Ana Hikari, 26, não tem medo de se posicionar. Para ela, que já abordou assuntos como a falta de descendentes asiáticos na TV e até sua sexualidade, essa é uma forma de levar informação ao maior número de pessoas possível. No elenco da próxima novela das 19h, “Quanto Mais Vida Melhor” (Globo), ela diz que não “valia a pena ter esse tanto de seguidores e falar porcaria nenhuma”.

A atriz ficou conhecida por interpretar Tina em “Malhação – Viva A Diferença” (Globo, 2017) e na série derivada “As Five”, que já tem sua segunda e terceira temporada confirmadas. “Vamos gravar no ano que vem. Estamos ansiosos, igual aos fãs”, completa.

Agora, na trama de Mauro Wilson, ela dará vida a Vanda, uma garota dona de uma banda. Em entrevista à Folha de S.Paulo, ela comenta que a personagem dará a oportunidade de ampliar seu trabalho como atriz, por ser diferente de Tina e de si mesma. “A Vanda é mais na dela assim, de poucos amigos, não tem umas ‘Five’ para acolher ela.”

Hikari diz estar animada com a estreia da novela, que deve acontecer em novembro. O projeto irá ao ar totalmente gravado, como uma obra fechada, prática que não era comum nos folhetins da Globo antes do período de pandemia de Covid-19. “Estamos gravando desde novembro do ano passado, estou morando no Rio de Janeiro por conta da novela”, conta a artista.

Para ela, ter uma pessoa de descendência asiática em um papel principal foi um marco para a televisão. “Passei muito tempo sem ver pessoas iguais a mim como sendo referência de beleza”, pontua, “[então] resolvi falar sobre coisas que acredito porque é o mínimo que posso devolver para essas pessoas que estão acompanhando meu trabalho”.

A atriz usa suas redes sociais como uma plataforma para tratar de assuntos que já vivenciou, sempre de maneira leve e didática. Para ela, falar sobre feminismo, racismo contra pessoas asiáticas, pautas do universo LGBTQIA+ e política faz parte da sua figura pública. “Cresci em um ambiente extremamente politizado na minha família, depois quando fui para a faculdade também.”

Ela comenta que quando enxerga algo que não concorda busca manifestar sua opinião, seja nas redes ou nas ruas, e que isso vai além de apoiar apenas um partido. “Ser é político, eu acredito nisso”, afirma, “meu trabalho me trouxe essa visibilidade e eu tive que entender como esse ‘ser uma figura pública’ funcionava para mim”.

Hikari pontua que desde postar fotos até fazer vídeos explicando assuntos, são atos políticos. Para a artista, debater o racismo contra pessoas amarelas é importante para que mais pessoas conheçam o movimento antirracista. “O principal motivo para trazer a tona essa discussão é para nos tornarmos aliados na luta antirracista.”

A atriz pontua que costuma iniciar as discussões com temas mais leves e então aprofundar. “Chamar alguém de ‘japa’, ignorar o nome, pessoalidade e individualidade da pessoa é uma expressão do racismo e uma maneira de desumanização”, exemplifica, “não é só pelo apelido. A discussão não é sobre isso”.

“É uma discussão que eu inicio por esse primeiro passo, porque eu é uma coisa que todo mundo já teve contato”, diz, “mas óbvio que a discussão de racialização é muito mais ampla e profunda”. A artista publica vídeos em seu Instagram para explicar as pautas, e criou quadros como “Ana Informa” para debater os assuntos com seus seguidores.

No entanto, Hikari não se considera como uma ativista, mas prefere utilizar o termo comunicadora social. “Meu trabalho é ser atriz”, completa, “a função que temos é de trazer de uma maneira acessível, didática e ampla, o diálogo sobre assuntos relevantes para a sociedade”.

Ela ainda afirma que sua função é divulgar pessoas que estão na militância nas ruas, “porque existe uma série de ONGs e organizações que estão nas ruas fazendo ações concretas para ajudar essas pessoas”. A atriz cita projetos como a Casa Florescer, que acolhe o público LGBTQIA+ em situações de vulnerabilidade, e a ONG Mulheres da Luz, que trabalha com mulheres em situação de prostituição em São Paulo.

“Esses espaços de militância e ação concreta, precisam ser divulgadas e ter as vozes dessas ações ampliadas por nós, comunicadores sociais”, completa. Ela afirma que tudo o que decide compartilhar sobre suas vivências pessoais, partem de uma escolha própria.

A artista já compartilhou como foi a descoberta de sua bissexualidade e também quando foi vítima de violência contra a mulher, vinda de um ex-namorado. “Tive a oportunidade de ser defendida pela lei Maria da Penha, consegui medida protetiva”, relembra.

Ela afirma que antes de publicar ou abordar algum tema, sempre se questiona “qual vai ser a função que abordar esse tema vai trazer para as pessoas que me seguem?”. “O importante é as pessoas terem empatia com o que eu estou falando”. Recentemente, ela esteve na bancada de telefones do Criança Esperança (Globo) ao lado do ex-BBB Gilberto Nogueira, 30.

“É ótimo que exista o Criança Esperança, mas é triste ainda ter necessidade desses projetos, porque o governo federal não supre as necessidades da educação”, pontua a artista. Ela diz que para o futuro, sonha que o projeto não precise mais arrecadar doações, pois todos os jovens terão acesso à educação.

“Sou um ser extremamente político, sempre fui”, reflete a artista. Para ela, estar alinhada e debater pautas relevantes para a sociedade só traz ganhos. “Foram só coisas boas que vieram com isso. Felizmente o público que me acompanha tem uma confiança grande em mim, e fico muito grata por isso.”

Por Mariana Arrudas