Aros olímpicos viram atração em Tóquio para quem queria ver os Jogos e não pode

No último domingo (1º/8), sob um calor de 39 graus de manhã, homens, mulheres e crianças estavam no monumento

Todos os dias, Karen Chen chega às 7h e fiscaliza uma das entradas do Estádio Olímpico de Tóquio. Qualquer um que chega, precisa apresentar credencial ou um tíquete especial que autorize a entrada.

Quando ela começa a trabalhar, em portão próximo ao Museu Olímpico do Japão, a fila já está formada e vai longe.
“E não para o dia inteiro. Ficam aqui no sol ou na chuva”, disse a funcionária da organização dos Jogos.

Milhares de pessoas passam pelo local a cada dia de competição. Registram imagens do estádio, tentam olhar o que há dentro do museu pelo vidro (o prédio está fechado) e ignoram qualquer regra de distanciamento para lotarem a loja de produtos oficiais.

Todos estão ali para tirar foto em um monumento com os aros olímpicos, com a visão ao fundo da arena que foi sede da cerimônia de abertura, recebe o atletismo e sediará também o encerramento do evento. Tornou-se uma das atrações turísticas da cidade.

No último domingo (1º/8), sob um calor de 39 graus de manhã, homens, mulheres e crianças estavam lá. Protegiam-se do sol com uma sombrinha.

Na terça-feira (3/8), com chuva, o cenário foi o mesmo. A diferença era o uso do guarda-chuva para não se molhar.
“Eles queriam vir. Foi uma decepção não poderem ver nada das Olimpíadas. Só pela televisão. Aqui tem todo este clima olímpico que não existe em outros lugares”, disse Haruto Okida, 38.

Ele estava de mãos dadas com os filhos Riku, 6, e Aoi, 7. Os dois usavam camisa vestido pela delegação japonesa nos Jogos e vendida até em lojas de conveniência por 2.500 yenes cada (cerca de R$ 120).

A região do Estádio Olímpico divide espaço, além do museu, com área verde repleta de jardins, prédios comerciais e estátuas. Uma delas é do barão Pierre de Coubertin, historiador francês e criador do Comitê Olímpico Internacional, conhecido como pai dos Jogos modernos, iniciados em 1896. A sua imagem em bronze também é fotografada milhares de vezes durante o dia.

Tudo é guardado para a posteridade com câmeras profissionais ou celulares.

“Isso aqui é uma atração turística de Tóquio agora. Muita gente é contra as Olimpíadas por causa da pandemia e do governo, mas muita gente gostaria de estar dentro deste estádio agora vendo as provas de atletismo”, comentou Itsuki Damashi, 30.

Ao lado da namorada, ele ficou no sol, mas não se incomodou. Disse que seria por pouco tempo e a fila andava rápido. Tinha razão.

Quando chega sua vez, quem está sozinho, em casal ou família, tira as fotos ao lado ou no meio dos aros olímpicos, checa se as imagens ficaram boas e vai embora. Não permanece um longo tempo para não atrapalhar quem espera. A maioria depois se aproxima da grade para clicar o que é possível do estádio, especialmente com o gigantesco banner

“Tokyo 2020”, colocado no topo da arena, ao fundo.

Apesar do estado de emergência decretado em Tóquio, que termina apenas em 31 de agosto, os moradores da capital têm ignorado a recomendação do distanciamento social. Em restaurantes, sistemas de transporte e supermercados, o movimento é normal.

Apesar da ordem de fecharem às 20h, restaurantes e bares nos bairros mais jovens e movimentados, permanecem abertos além desse horário. Sem grande esforço, álcool, com venda proibida a não ser para consumo residencial, pode ser encontrado.

Com exposições permanentes que mostram a história do movimento olímpico e da participação japonesa, o museu está fechado durante o evento. A reabertura vai acontecer apenas em 11 de agosto, três dias após a cerimônia de encerramento no vizinho Estádio Olímpico.

“É uma pena. Durante os Jogos, seria um programa bom para a família, para as crianças conhecerem um pouco mais dos esportes. Mas vamos tirar foto dos aros mesmo”, se conformou Yamato Ushira, 42, que levou a mulher, dois filhos e três sobrinhos para tostar no sol de domingo e tirar várias fotos no monumento celebratório das Olimpíadas que eles não podem ver ao vivo.

Matéria escrita por Alex Sabino

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