Atleta mais velha em Tóquio, amazona de 66 anos mantém longevidade em Jogos

Australiana Mary Hanna, 66, que já participou de seis edições dos Jogos no hipismo, foi a atleta mais velha nas Olimpíadas de Tóquio

Imagine ter ainda o desejo de competir em alto nível aos 50 anos de idade. Não é usual, mas é possível. A amazona australiana Mary Hanna, 66, que já participou de seis edições dos Jogos (1996, 2000, 2004, 2012, 2016 e 2020) no hipismo, foi a atleta mais velha nas Olimpíadas de Tóquio.

Trata-se de modalidade que, desde Pequim-2008, tem os esportistas olímpicos com idade mais elevada. Hanna, no entanto, não é sequer a atleta mais velha da década a competir em cima de um cavalo.

Em Londres-2012, o japonês Hiroshi Hoketsu disputou os Jogos pela terceira vez aos 71 anos –a primeira foi em 1964, aos 23. No Rio-2016, a neozelandesa Julie Braugham tinha 62 anos. Em Tóquio, o atleta mais velho da delegação brasileira é Marcelo Tosi, 51, também do hipismo.

“Andar a cavalo é um desses esportes que você pode fazer independentemente da idade ou do gênero. É uma coisa fantástica. Enquanto eu me sentir apta o suficiente para andar a cavalo, eu vou continuar. É o que eu amo fazer, é a minha vida. Significa tudo para mim”, disse Hanna.

A conexão entre cavalo e atleta não depende da força ou da forma física, diz Sabrina Ibáñez, secretária-geral da Federação Internacional de Hipismo. Segundo ela, a relação funciona mais pela criação de um elo único entre as partes. Por isso, a federação internacional lançou a campanha “#WeDon’tPlay” (#NósNãoCompetimos, em inglês).

“Todo atleta humano sabe que só pode voar, pular e cavalgar porque construiu um laço único com o cavalo. A comunicação é feita pela empatia, e não por meio de palavras. Não existe nada mais satisfatório do que quando um cavalo e um humano estão perfeitamente sincronizados”, completa Ibáñez.

Geralmente, os potros nascem e recebem leite da mãe até que cresçam e se acostumem à presença de humanos –antes mesmo de passear com um nas costas.

Para as provas de adestramento, por exemplo, os animais tendem a ter de quatro a seis anos, enquanto só devem ser cavalgados a partir dos três, quando já entendem instruções e criam vínculo com a pessoa que estará com eles.

Em Tóquio, Mary Hanna, que compete com a égua Calanta, de 14 anos, ficou na sexta posição no Grupo A e não avançou para a final individual. Com a equipe australiana, terminou em 13º. No Rio e em Londres, ficou com o nono lugar por equipes. O melhor resultado da carreira, por sua vez, foi em Sydney, com a sexta colocação.

“A preparação para Tóquio foi difícil devido à Covid. Não tivemos muitas provas, e as que tivemos não tínhamos espectadores. Eu sinto falta disso –de estar com os grandes competidores, de assisti-los competindo. É complicado quando se está treinando sozinha, do outro lado do mundo, longe de onde toda a ação está acontecendo… Perde-se um pouco o padrão”, conta Hanna.

Apesar disso, ela não pensa em desistir. “Havia um homem muito bom que cavalgou até os seus 70 anos [Hiroshi Hoketsu], e ele andava de uma forma graciosa. É uma inspiração para mim. Eu olho para os atletas de todo o mundo e vejo pessoas que admiro e que nunca pararam, que ainda parecem perfeitas sobre a sela. São homens, mulheres e são exemplos perfeitos para continuar nesse caminho.”

Assim, Hanna afirma que, “a não ser que o corpo não aguente mais”, ela se esforçará para estar em Paris, quando terá 69 anos.

Matéria escrita por Josué Seixas

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