Atletismo das Olimpíadas vê queda de desempenho de EUA e Jamaica na pista – Mais Brasília
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Atletismo das Olimpíadas vê queda de desempenho de EUA e Jamaica na pista

Segundo levantamento da Folha, o país conquistou 24,1% dos pódios nas provas de pista dos Jogos do Rio-2016. Em Tóquio-2020, a equipe caiu para 20,7% das medalhas

EUA avançam à final do 4x400 m feminino, nas Olimpíadas
Foto: Reprodução/Olympic Channel

A liderança no quadro de medalhas do atletismo não teve gosto de vitória para os Estados Unidos nas Olimpíadas de Tóquio-2020 Segundo levantamento da Folha, o país conquistou 24,1% dos pódios nas provas de pista dos Jogos do Rio-2016. Em Tóquio-2020, a equipe caiu para 20,7% das medalhas.

Houve derrotas significativas, como a desclassificação da equipe revezamento 4 x 100 m na semifinal, que gerou enorme crise. O ex-velocista Carl Lewis, dono de nove ouros olímpicos no atletismo, criticou publicamente o desempenho do time, formado por Trayvon Bromell, Fred Kerley,Ronnie Baker e Cravon Gillespie. “Foi uma vergonha total e é completamente inaceitável para um time dos Estados Unidos parecer pior do que os garotos amadores que vejo.”]

Os Estados Unidos têm enorme tradição na história da prova. Ganharam 15 das 25 finais olímpicas do 4 x 100 m masculino. Mas não ficam com o ouro desde Sydney-2000. E, pela quarta vez seguida, nem subiram ao pódio.

Outra derrota doída foi nos 400 m masculino, prova com amplo domínio norte-americano na história. Os Estados Unidos venceram 19 das 27 finais olímpicas da distância. Mas, no Japão, não conseguiram colocar nenhum atleta no pódio, apesar de terem dois representantes na final: Michael Cherry e Michael Norman, que chegaram, respectivamente, em quarto e quinto lugar.

Nos 400 m, o jejum vem desde a vitória de LaShawn Merritt em Pequim-2008. Na ocasião, a prata e o bronze também ficaram com os Estados Unidos. Em Tóquio, os norte-americanos só viram os vizinhos da América no pódio. A prova foi vencida por Steven Gardiner (Bahamas), com Anthony Zambrano (Colômbia) e Kirani James (Granada) chegando logo atrás.

Outro país que perdeu representatividade nas provas de velocidade foi a Jamaica. Na primeira edição das Olimpíadas pós-Usain Bolt, o país caribenho viu encolher sua fatia de 12,6% (Rio-2016) para 10,3% (Tóquio-2020). Provas que se acostumou a vencer na era Bolt passaram a ser disputadas por outros países, incluindo algumas surpresas na pista. Os 100 m foram conquistados por um italiano (Marcell Jacobs), os 200 m, por um canadense (Andre de Grasse, vice-campeão em 2016), e o 4 x 100 m, de novo pela Itália.

Os italianos nunca tinham vencido a prova mais nobre do atletismo. Nos 200 m, o Canadá não ganhava o ouro desde Amsterdã-1928. Já no 4 x 100 m, a Itália tinha como melhor desempenho o vice-campeonato em Berlim-1936. Alguma coisa de fato mudou nas provas de velocidade. Não só nelas.

Nas distâncias mais longas, Etiópia e Quênia viram seu domínio também ser posto em xeque. Os etíopes, que perderam vários talentos para outros países, ganharam 9,2% das medalhas em provas de corrida no Rio-2016. Em Tóquio-2020, reduziram participação para 4,6%. Sifan Hassan, que no Japão ganhou dois ouros (5.000 m e 10.000 m) e um bronze (1.500 m), é o maior exemplo de perda de talento nascido no país. A corredora representou a Holanda.

Já os quenianos só não viram o prejuízo ficar maior porque conquistaram o ouro nas maratonas masculina e feminina no último fim de semana de competições. Ainda assim, tiveram queda de 13,8% para 11,5% dos pódios nas competições de corrida. A derrota mais significativa foi nos 3.000 m com obstáculos, prova em que o país não perdia desde Moscou-1980 e Montreal-1976, quando o Quênia boicotou os Jogos. Na pista, os quenianos não eram derrotados, coincidentemente, desde Tóquio-1964.

A vitória de Soufiane El Bakkali foi a primeira do Marrocos na história olímpica. Os quenianos, por sua vez, tiveram que se contentar com o bronze de Benjamin Kigen. A prata ficou com o etíope Lamecha Girma.

Vizinho de Etiópia e Quênia, Uganda começa a acompanhar os rivais nas corridas longas. Há cinco anos, no Rio, não ganhou nada. Em Tóquio-2020, foram quatro medalhas, sendo dois ouros, com Joshua Cheptegei, nos 5.000 m masculino, e Peruth Chemutai, nos 3.000 m com obstáculos feminino. O país já finca nomes na elite do atletismo mundial. Cheptegei, por exemplo, é o atual recordista mundial dos 5.000 m e 10.000 m.

Ascensão mais inexplicável veio da Itália, país que não subiu ao pódio em provas de corrida no Rio-2016 e ganhou quatro ouros em Tóquio-2020. Os italianos recuperaram uma tradição que já tinham na marcha, com vitórias nos 20 km tanto no masculino (Massimo Stano) como no feminino (Antonella Palmisano). A surpresa veio nas provas de velocidade, com as vitórias nos 100 m e 4 x 100 m já citadas acima.

Outro crescimento veio da Holanda, que ganhou seis medalhas nas corridas. Dessas, porém, quatro vieram de africanos naturalizados. Etíope de nascimento, Sifan Hassan tentou o inédito ouro nos 1.500 m, 5.000 m e 10.000 m. Acabou com o bronze na primeira prova e o ouro nas duas disputas longas, o que não deixa de ser um feito. Já Abdi Nageeye, que nasceu na Somália, ganhou a prata na maratona, perdendo apenas para o queniano Eliud Kipchoge, bicampeão olímpico e recordista mundial da prova.

Entre as provas, duas se destacaram: os 400 m com barreiras e os 1.500 m, tanto masculino como feminino. Os 1.500 m masculino foi a prova com a maior evolução dos tempos entre os medalhistas de Tóquio-2020 em relação ao Rio-2016: 9,3%. A vitória foi de Jakob Ingebrigtsen, da Noruega, país que não só nunca havia vencido a distância, mas também jamais subira ao pódio nesta prova. O jovem, de apenas 20 anos, surpreendeu a todos e ainda bateu o recorde olímpico (3min28s32).

A versão feminina teve evolução de 6,2% no tempo das medalhistas, o que é explicado pelo ouro entre a queniana Faith Kipyegon, que acabou conquistando o bicampeonato olímpico, e Hassan, que liderou boa parte da prova, mas ficou com o bronze.

Os 400 m com barreiras foi outra prova que ressurgiu no atletismo. A final do feminino apresentou evolução de 3,3% nos tempos das medalhistas em relação ao Rio-2016. Recordista mundial, a norte-americana Sydney McLaughlin superou a própria marca na final, para cravar 51s46. A prata ficou com outra norte-americana, Dalilah Muhammad, que ganhara o ouro no Rio-2016.

A versão masculina dessa disputa teve evolução quase igual: 3,2% em relação ao Rio-2016. E, dessa vez, o Brasil teve participação destacada. Alison dos Santos subiu ao pódio na competição em que o norueguês Karsten Warholm bateu seu próprio recorde mundial (45s94) para ficar com o ouro.

Os 400 m com barreiras não estavam tão badalados desde Barcelona-1992, quando Kevin Young ganhou o ouro, com novo recorde mundial. A marca do norte-americano só foi quebrada neste ano, por Warholm, novo nome dominante na prova.

Matéria escrita por Adalvberto Leister Filho, Leonardo Diegues e Diana Yukari