Rebeca deixa Olimpíadas ‘flutuando’ e pronta para virar inspiração

Mesmo depois da prata no individual geral, obtida na última quinta (28/7) e que fez o seu nome ganhar repercussão inédita no Brasil

Rebeca Andrade tem a imagem perfeita para descrever como se sentiu nos últimos dias, em que conquistou duas medalhas nas Olimpíadas de Tóquio. “Eu estava muito segura de mim, parecia que eu estava flutuando.”

Para chegar a esse nível de concentração e leveza, a ginasta precisava estar com o joelho direito em ordem, após ter passado por três cirurgias no local, e também muita força mental.

Sem as lesões que a tiraram de grandes competições nos últimos anos para atrapalhar, ela enfim teria sua chance de brilhar. Era “só” fazer o que sabia e tentar não se deixar afetar pela pressão, o que nunca é fácil no maior palco do esporte.

Mesmo depois da prata no individual geral, obtida na última quinta (28/7) e que fez o seu nome ganhar repercussão inédita no Brasil, ela se manteve serena para conquistar o ouro no salto no domingo (1º/8). Nesta segunda (2/8), encerrou sua participação olímpica com o quinto lugar no solo, resultado que encarou com normalidade.

Numa prova de alto nível técnico, a brasileira deu um passo para fora do tablado e recebeu a nota 14.033, muito próxima da que teve na classificação: 14.066. No individual geral, quando pisou fora duas vezes, tirou 13.666.

A vencedora foi a americana Jade Carey (14.366). Aos 30 anos, a italiana Vanessa Ferrari obteve sua primeira medalha e ficou com a prata (14.200). A japonesa Mai Murakami e a russa Angelina Melnikova dividiram o bronze (14.166).

“Eu me senti incrível, porque não me senti pressionada para levar uma medalha para o Brasil, para acertar tudo. Mesmo querendo acertar. Foi uma coisa muito natural mesmo, que só fluía”, disse.

Se antes a cobrança era sobre o que precisava fazer nos treinos para melhorar tecnicamente, hoje em dia a mensagem é muito mais emocional. “Fica tranquila, confie em você, porque você já fez milhões de séries desse jeito, vai lá e faz seu melhor’. Acho que o fato de eu começar a pensar assim me ajudou muito.”

Por mais que não quisesse ser contagiada pela euforia envolvendo seu nome no Brasil, ela não podia ignorar que agora possui 2,1 milhões de seguidores no Instagram. Muito menos que a britânica Jessie J, que está no seu “top 3 de cantoras favoritas”, compartilhou um vídeo em que a atleta e o ginasta Arthur Nory dançam uma de suas músicas. Após dormir ao lado de suas duas medalhas, ela acordou empolgada com a notificação.

“Isso foi muito incrível. Ela nem me seguiu, mas para mim já valeu [risos]. Fiquei muito feliz. E vários famosos me seguindo, o tanto de pessoas dizendo que eu sou uma ótima influencer por causa da minha história. Pessoas começam a se inspirar em mim, crianças que querem fazer esporte e antigamente não tinham em quem se inspirar e hoje eu estou aqui representando”, afirmou.

A história que inspira é a de uma menina negra, criada na periferia de São Paulo, em Guarulhos, filha de mãe solo que criou uma família numerosa e fez grandes esforços para manter a garota no esporte que agora a consagra mundialmente.

Missão concluída, fica a mensagem que ela gostaria de passar para quem acompanhou sua trajetória: “É sempre acreditar em você, não desistir de maneira alguma. Tive várias oportunidades de ter desistido, mas tive pessoas incríveis me falando que não estava na hora. Tem que ser forte, saber que um dia vai melhorar e acreditar em você, porque vai dar tudo certo.”

Matéria escrita por Daniel E. de Castro

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