Rebeca disputa 1º Mundial como estrela da ginástica e celebra representatividade – Mais Brasília
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Rebeca disputa 1º Mundial como estrela da ginástica e celebra representatividade

Medalhista olímpica atrai as atenções do esporte de forma inédita em retorno ao Japão

Rebeca Andrade
Foto: Getty Images

Pela segunda vez em 2021, Rebeca Andrade tentará brilhar no Japão. Após conquistar duas medalhas nas Olimpíadas de Tóquio, há quase três meses, a brasileira volta ao país para a disputa do Mundial de Ginástica Artística em Kitakyushu.

A competição começa nesta segunda-feira (18/10), com as qualificações, e vai até domingo (24/10). As finais serão transmitidas pelo SporTV a partir de quinta (21/10).

Aos 22 anos, Rebeca chega de forma inédita na carreira como grande estrela de um evento desse nível.

“Apesar de ter sido um ano intenso de preparação para os Jogos, eu sentia que ainda tinha a possibilidade de performar. É muito importante para mim e para o meu país poder representar mais uma vez, ainda mais num momento tão importante de representatividade que estou vivendo, para tantas pessoas”, afirma a atleta à Folha.

O primeiro Mundial após as Olimpíadas conta apenas com disputas individuais e costuma ter desfalques importantes –especialmente neste ano em que, por causa da pandemia, o campeonato ocorre atipicamente no mesmo ano dos Jogos.

A equipe dos EUA, por exemplo, não tem Simone Biles e está totalmente modificada em relação a Tóquio. Ainda assim, Rebeca possui fortes concorrentes. Com exceção da americana Sunisa Lee, medalhista olímpica de ouro no individual geral, as outras quatro mais bem colocadas nessa disputa estão presentes em Kitakyushu: além da brasileira, prata, as russas Angelina Melnikova e Vladislava Urazova, além da japonesa Murakami Mai.

A Federação Internacional de Ginástica projeta uma acirrada briga pelo título nessa categoria (que desde 2013 só não foi vencida por Biles uma vez) e apontava Rebeca como principal favorita devido ao seu desempenho nos Jogos.

Na sexta, porém, a confederação brasileira (CBG) informou que a atleta participará de três aparelhos: salto (em que conquistou o ouro olímpico), trave e barras assimétricas. Fora do solo, ela também não disputará o individual geral (em que as ginastas competem nos quatro aparelhos).

“Foi muito difícil para todo mundo [a decisão de abrir mão do solo] e mais ainda para mim, porque queria me apresentar. Mas ao mesmo tempo eu penso na minha carreira a longo prazo. Não existe só essa competição, quero muito ir para 2024 [Olimpíadas de Paris] e também em 2022 e 2023 me apresentar tão bem quanto fiz nas outras competições. Então preciso pensar em mim”, explica Rebeca.

“A equipe discutiu e analisou esta longa temporada e a alta exigência até aqui. Entendemos que, para que a Rebeca possa fazer o solo com bom nível técnico e seguro, a carga de treinamentos precisaria ser maior e mais complexa. Nesse momento pós-Olimpíada e [pelo] planejamento a longo prazo não seria adequado”, completa o seu técnico, Francisco Porath Neto.

A performance no solo é a mais exigente para os joelhos, parte do corpo especialmente sensível para a brasileira. Ela já passou por três cirurgias no joelho direito e, por causa disso, perdeu os Mundiais de 2015, 2017 e 2019.

Rebeca enxerga essa trajetória de percalços como preparação para o momento que vive hoje. Festejada por seus feitos esportivos, ela também passou a ser vista como uma celebridade do esporte nos últimos meses, mudança de status que pôde ser sentida pela delegação brasileira no Japão.

“A gente nunca chegou a uma competição em que ela é a superstar, com todo o mundo querendo falar com ela. Nunca teve essa busca tão grande por parte da mídia internacional, repórteres perguntando como é ser capa da [revista] Vogue e ela tendo que se posicionar”, diz.

Henrique Motta, coordenador geral da CBG. “Precisamos prepará-la para estar ambientada a essa situação de competir como a melhor.”

A atleta pontua que a ginástica sempre estará em primeiro lugar, mas reconhece que foi preciso flexibilizar a agenda esportiva para dar conta dos muitos compromissos fora do ginásio que surgiram após os Jogos de Tóquio. “É um momento único e muito importante da minha vida. Estou amando o tanto que eles [sua equipe] estão respeitando o meu momento dentro da ginástica e fora também, com tudo o que estou vivendo.”

Acompanhada pela psicóloga Aline Wolff desde os 13 anos de idade, a ginasta diz que não mudou seu trabalho de preparação mental para lidar com os novos desafios, apenas deu continuidade às sessões: “Foi isso que me preparou e me fez chegar até aqui, então por que eu mudaria? É a gente seguir firme para que dê tudo certo”.

Além de marcar a história da ginástica, ela deseja aproveitar a visibilidade para que sua trajetória ultrapasse o impacto esportivo.

“O mais importante para mim é a representatividade. Vou continuar sendo a Rebeca que sempre fui. Não tem diferença, mesmo que as pessoas hoje me vejam diferente. Mas o que mais importa é a força que minha voz tem hoje e tudo o que eu posso fazer com ela. Vou usar da melhor maneira possível para o esporte e para todas as pessoas que hoje me admiram”, afirma.

Entre as Olimpíadas e o Mundial, além de entrevistas e campanhas publicitárias, Rebeca também disputou o Campeonato Brasileiro pelo Flamengo, clube que defende. Ali pôde dimensionar o papel que passou a ocupar no esporte: de referência para as meninas mais novas, da mesma forma como um dia Daiane dos Santos era vista por ela.

“Foi muito importante para mim mostrar para elas que é possível, que mesmo que muitas pessoas falem que não vai dar certo, elas precisam acreditar. Ser referência hoje é uma coisa muito incrível, quando eu era criança tinha a minha, a Dai. Sei como uma palavra e um gesto fazem a diferença”, conclui.

O Brasil também será representado no Mundial por Arthur Nory, que defende o título de 2019 na barra fixa, e Caio Souza, finalista olímpico no individual geral e no salto.

O japonês Daiki Hashimoto, medalhista de ouro em Tóquio no individual geral e na barra fixa, é a grande estrela da competição entre os homens, ao lado do compatriota Kohei Uchimura, que dominou o esporte de 2009 a 2016. Natural de Kitakyushu, Uchimura está em fase final de carreira e tenta apagar a decepção após uma queda que o tirou da disputa em Tóquio.

Por Daniel E. de Castro