169 pessoas foram presas na França durante protestos de sábado (18) – Mais Brasília
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169 pessoas foram presas na França durante protestos de sábado (18)

Em Paris, onde se reuniram cerca de 4.200 manifestantes, houve 122 detenções

Foto: Julien de Rosa/AFP/FolhaPress

Os protestos da noite deste sábado (18) na França terminaram com 169 pessoas presas, das quais 122 em Paris, de acordo com relatório divulgado pelo Ministério do Interior neste domingo (19).

O país entrou em convulsão na quinta (16) após o presidente Emmanuel Macron atropelar a votação na Assembleia Nacional para impor uma impopular reforma da Previdência.

No sábado, pelo terceiro dia consecutivo, dezenas de milhares de franceses saíram às ruas para protestar contra a manobra de Macron —cerca de 4.200 pessoas só em Paris. Houve protestos em pelo menos outras 14 cidades, como Lyon, Nantes e Bordeaux.

Na praça da Concórdia, na capital do país, onde os protestos foram proibidos no sábado, 400 pessoas foram revistadas e 12 detidas, segundo a emissora BMF. O local, em frente ao parlamento, era o principal ponto de concentração das manifestações dos últimos dias.

Impossibilitados de protestarem ali, os franceses se reuniram na praça da Itália por volta das 18h do horário local e iniciaram uma caminhada.

Durante a marcha, alguns manifestantes incendiaram latas de lixo, depredaram pontos de ônibus e formaram barricadas. A população foi dispersada por volta das 21h30 locais. Já em Lyon, cerca de 15 manifestantes foram presos após a polícia alegar que “grupos de indivíduos violentos” provocaram confrontos.

O número de presos não foi o maior dos últimos dias: na quinta-feira (16), quando mais de 50 mil franceses tomaram as ruas do país, 310 pessoas foram presas —258 delas só em Paris, onde cerca de 10 mil manifestantes ocuparam a praça da Concórdia.

Naquele dia, Macron recorreu ao artigo 49.3 da Constituição para aprovar o projeto de lei do governo sem a chancela parlamentar, o que representou um ponto de inflexão em parte dos protestos franceses contra a mudança nas aposentadorias, até então pacíficos.

O dispositivo constitucional, considerado pouco democrático, foi uma aposta do governo diante das incertezas sobre a votação da reforma da Previdência apresentada em janeiro pela primeira-ministra, Elisabeth Borne. A iniciativa é crucial para a agenda reformista de Macron.

A proposta aumenta a idade de aposentadoria de 62 para 64 anos até 2030 e adianta para 2027 a exigência de 43 anos de contribuição para acessar a aposentadoria integral —atualmente são necessários 42 anos.

A reformulação também mexe nos chamados regimes especiais —aqueles dedicados a atividades consideradas mais penosas, como as de garis, bombeiros, policiais e enfermeiros, que podem se aposentar antes das demais categorias, teriam a idade mínima elevada de 57 para 59 anos.

Segundo o governo, a reforma vai representar uma economia de € 18 bilhões (cerca de R$ 101 bilhões). Ela representa uma aproximação da França aos parâmetros adotados por outros países da União Europeia, que já elevaram suas idades mínimas de aposentadoria.

Nesta segunda (20), a assembleia vai votar a moção de censura ao governo apresentada na última sexta-feira (17) por uma aliança multipartidária que une siglas de centro e de esquerda. O instrumento tem o poder de derrubar a primeira-ministra e rejeitar o texto que teve aprovação automática —neste caso, a reforma da Previdência.

A moção precisa, no entanto, da aprovação da maioria absoluta dos parlamentares. E embora Macron tenha perdido essa maioria nas eleições passadas, as chances de que a medida avance são pequenas —ela exigiria a improvável união de deputados de todos os espectros, do mais à esquerda ao mais à direita.

Na madrugada deste domingo, a sede do gabinete de Eric Ciotti —presidente do partido de direita Republicanos, que se posicionou contra a moção de censura— foi atingida por pedras à noite.

Em sua conta no Twitter, Ciotti publicou fotos do ataque e afirmou que “não cederá aos novos discípulos do terror”.

No dia anterior, o sindicato CGT anunciou que os trabalhadores vão paralisar a maior refinaria de petróleo da França, localizada na Normandia. Até o momento, as greves impediram apenas a saída de combustível das refinarias, mas não conseguiram paralisar completamente as operações.

A mobilização também afetou a coleta de lixo em vários bairros de Paris, onde cerca de 10 mil toneladas de lixo se acumulam nas ruas.

*Com AFP