Argentinos criam o maradólar, criptomoeda em homenagem a Maradona – Mais Brasília
FolhaPress

Argentinos criam o maradólar, criptomoeda em homenagem a Maradona

Nova moeda estreia no próximo sábado (30/10), quando o ex-jogador completaria 61 anos

Foto: Divulgação/maradolar.com

Dias após a morte de Diego Armando Maradona, em 25 de novembro do ano passado, surgiu a ideia na Argentina de criar uma moeda de 10 mil pesos (R$ 578 no câmbio atual) com o rosto do jogador. O projeto, no entanto, foi abandonado logo em seguida pela falta de capacidade do governo de controlar a inflação, o que poderia desvalorizar o dinheiro e, inclusive, afetar a imagem do ídolo.

O plano de eternizar o lendário craque com seu rosto em uma nota não foi adiante, mas no próximo sábado (30/10), quando ele completaria 61 anos, estreará no mercado uma nova criptomoeda, o maradólar, sob a sigla MDB.

A homenagem, no entanto, não agradou a todos. O advogado Matías Morla, responsável por administrar a imagem de Diego após sua morte por insuficiência respiratória, chamou o lançamento de “fraude” e reclamou do uso indevido da figura e do nome de seu ex-cliente.

Morla está em guerra também com Dalma e Giannina, filhas do camisa 10 com Claudia Villafañe, que contestam na Justiça o suposto direito adquirido por ele.
O advogado, inclusive, foi barrado no funeral de Maradona.

A família de Maradona ainda não se pronunciou sobre a criptomoeda. Dalma e Giannina costumam se manifestar nas redes sociais, mas nada disseram sobre o maradólar.

A última movimentação delas e dos outros três filhos de Diego (há mais cinco processos de reconhecimento de paternidade em andamento) foi um pedido judicial para que a herança do jogador não seja taxada pelo imposto de grandes fortunas.

Em uma ação na Justiça argentina, o advogado briga com os filhos do seu antigo cliente pelos direitos de imagem sobre marcas referentes ao campeão mundial de 1986.

O maradólar, que estará disponível na Binance Smart Chain, tem a ideia de ser popular e disseminar a cultura da moeda digital entre o povo argentino. A princípio, não será listado nem precificado nas casas de câmbio.

De acordo com o site maradolar.com, serão entregues 10 mil tokens de graça para 10 mil pessoas que realizarem um cadastro até o dia 30. O maradólar também será distribuído através do sistema airdrop (liberação de tokens para que já possui criptomoedas, como bitcoin).

O valor do maradólar será baseado de acordo com a oferta e procura, e a liquidez ocorrerá ao completar o número de 100 mil usuários ativos.

A partir daí, os idealizadores pedem que os proprietários do MDB utilizem-no para aquisição de serviço e bens no comércio popular e informal, além de doações para comunidades e desenvolvimento de projetos de infraestrutura.

“Uma moeda feita sob medida para poder entrar no mundo das criptomoedas de uma forma simples e sem riscos. Queremos construir uma alternativa ao peso para que você compre e venda com tranquilidade”, diz texto no portal do projeto.

O país sofre com o descontrole da inflação de dois dígitos há quase duas décadas, e o seu presidente Alberto Fernández compartilha da opinião de que as criptomoedas poderão servir como remédio nessa crise.

“A vantagem do uso das criptomoedas é que o efeito inflacionário é anulado. A discussão sobre o funcionamento das criptomoedas é mundial e confesso que é ponto de atenção. Mas não há como negar, talvez os criptoativos sejam um bom caminho”, disse Fernandéz, em agosto.

A inflação atingiu 37% de janeiro a setembro deste ano, e o índice é de 52% no acumulado dos últimos 12 meses.

Pressionado para conter a tensão social crescente, o governo argentino congelou, conforme anúncio no dia 13 de outubro, os preços de quase 1.250 produtos considerados essenciais.

Para os especialistas, não há nenhuma garantia de que uma criptomoeda auxilie no combate à inflação.

“Esse é um problema crônico da Argentina e depende de vários fatores para saná-lo. Moedas digitais são formas de aplicações com expectativas de ganhos, não cumprem o papel tradicional, mas sim de atrair investidores. Não vejo como solução”, afirma Roberto Borghi, professor do Instituto de Economia da Unicamp.

“Se estamos pensando em criptomoedas para o cotidiano, adquirir o arroz, a carne, o vinho, nada garante que seu uso arrefeça o aumento geral de preços” diz Joelson Gonçalves de Carvalho, professor de economia da UFSCar. “Por outro lado, uma criptomoeda também é uma mercadoria e pode sofrer valorizações, protegendo quem as detêm da inflação, mas não protegendo a economia como um todo”, completa.

Por Alex Sabino e Carlos Petrocilo