Chefe da diplomacia da UE diz esperar proposta de países árabes para cessar-fogo em Gaza – Mais Brasília
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Chefe da diplomacia da UE diz esperar proposta de países árabes para cessar-fogo em Gaza

Ele afirma que representantes dessas nações estão negociando os termos da proposta de forma antecipada com os Estados Unidos para que não haja um novo veto no Conselho de Segurança da ONU

Foto: Reuters/Yves Herman/Reprodução

O chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borell, afirmou nesta quinta-feira (22) esperar uma proposta de países árabes para um cessar-fogo na guerra Israel-Hamas.

Ele afirma que representantes dessas nações estão negociando os termos da proposta de forma antecipada com os Estados Unidos para que não haja um novo veto no Conselho de Segurança da ONU. Nesta semana, uma proposta do tipo foi rejeitada pela terceira vez pela diplomacia americana.

“Eu espero que nos próximos dias nós possamos ver uma proposta vindo do mundo árabe. Eu sei que eles estão trabalhando muito nisso, mas certamente querem ter certeza de que, se eles fizerem uma proposta, ela será apoiada. Do contrário, eles vão parecer sem poder”, disse Borell à imprensa durante as reuniões do G20 no Rio de Janeiro.

“Sei que na política você não pode mostrar [uma proposta] a não ser que você tenha certeza de que ela irá decolar.”

A afirmação ocorre dois dias depois ao terceiro veto dos EUA a uma proposta de resolução enviada ao Conselho de Segurança da ONU para um cessar-fogo no conflito. Treze membros do órgão votaram a favor do texto redigido pela Argélia, enquanto o Reino Unido se absteve. Os EUA foram o único país a se manifestar de forma contrária à resolução.

Borell considerou haver um consenso dentro do G20 em relação à solução de dois Estados para a paz, “porque não ouvi ninguém falando nada contra”.

“Pedi ao ministro brasileiro [Mauro Vieira] para que na sua conclusão oral -porque não haverá uma conclusão escrita- que toque nesse tema para explicar ao mundo que no G20 todos são favoráveis a essa solução. Se todos são a favor dessa solução, então temos que mobilizar nossa capacidade política para fazer com que ela seja implementada. Senão, será apenas um pensamento positivo”, disse ele.

Em entrevista à Folha de S.Paulo antes da cúpula, ele havia dito que via o Brasil com um papel crucial de mediador entre os membros mais e menos desenvolvidos do grupo.

Borell afirmou que a Rússia foi criticada por todos os membros pela invasão à Ucrânia, mas manteve seus argumentos para o conflito, entre eles a suposta desnazificação do país-alvo. Também houve críticas à morte do líder opositor russo Alexei Navalni, 47.

“O caso Navalni foi colocado à mesa por algumas pessoas. Silêncio. Silêncio”, declarou o diplomata.

O chefe da diplomacia europeia afirmou que concorda com o pleito brasileiro de reforma da governança global, em especial a ampliação das cadeiras do Conselho de Segurança da ONU. Mas afirmou não ver abertura por parte dos países que atualmente têm o poder de veto.

“É um pouco irrealista acreditar que aqueles que têm o direito de veto desde 1949 vão renunciar a isso.”

Ele lamentou que as discussões do G20 tenham precisado se concentrar nos conflitos atuais, em vez de debater a transição energética e desenvolvimento.

“É uma pena que nós gastemos muito mais [tempo] em [temas de] defesa, militares. Nós deveríamos gastar menos nisso, mas vamos gastar, todos nós, cada vez mais em todo mundo. E isso em detrimento de outros temas, em particular as prioridades para o desenvolvimento”, disse ele.

O G20 é o grupo que reúne as 19 maiores economias do mundo, além da União Europeia e da União Africana. Neste ano a presidência do fórum está com o Brasil, que estipulou três prioridades para seu mandato: além da reforma da governança internacional, há o combate à fome, pobreza e desigualdade e as três dimensões do desenvolvimento sustentável (econômica, social e ambiental).

A reunião dos chanceleres é a primeira ministerial a ser feita sob a presidência do Brasil. O tema desse encontro, que deve direcionar as negociações políticas do grupo, vai girar em torno da necessidade de mudanças nos organismos internacionais e nos conflitos em curso no mundo.

Por Camila Zarur e Italo Nogueira