Explosão na Polônia provavelmente foi causada por míssil da Ucrânia, diz líder da Otan

Aliança, porém, não tira responsabilidade da Rússia; Moscou culpa Kiev e elogia EUA por 'reação comedida'

O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, afirmou nesta quarta-feira (16/11) que a explosão que matou duas pessoas na Polônia na véspera provavelmente foi causada por um míssil de defesa aérea da Ucrânia. O foguete foi lançado por um S-300, antigo modelo soviético que é também o principal sistema antiaéreo de Kiev.

Para o norueguês, isso não significa, porém, que o Exército de Volodimir Zelenski possa ser culpada pelo incidente na pequena cidade de Przewodow, no leste do país e perto da divisa ucraniana. “A Rússia carrega, em última instância, a responsabilidade, já que segue com sua guerra ilegal contra a Ucrânia”, afirmou.

A fala resume a confusão retórica que ronda o incidente, que aumentou os temores de uma escalada do conflito ao ocorrer em um país-membro da Otan. Como a aliança militar tem como princípio a defesa coletiva, isto é, a garantia de proteção militar a qualquer membro do bloco, um ataque a um Estado da organização pode ser considerado uma ofensiva contra todos os demais.

A Ucrânia nega que o míssil tenha vindo de seu país, e diz que a hipótese não passa de uma “teoria da conspiração” difundida pela Rússia. “Isso não é verdade. Ninguém deveria acreditar na propaganda russa ou amplificar suas mensagens”, escreveu o ministro das Relações Exteriores do país, Dmitro Kuleba, no Twitter, na noite da explosão.

Após a declaração da Otan, um oficial sênior do Ministério da Defesa da Ucrânia afirmou que o país tem evidências do envolvimento russo no incidente e que vai exigir acesso às informações que levaram seus aliados às conclusões de agora. Kiev deseja um “estudo abrangente e completamente transparente da situação”, escreveu o secretário de Segurança Nacional e do Conselho de Segurança ucraniano, Okesii Danilov, no Facebook.

Além da Otan, porém, vários outros membros da comunidade internacional repetiram as suspeitas de que o foguete veio da Ucrânia. Em um encontro com repórteres nesta quarta-feira (16), o presidente da Polônia, Andrzej Duda, afirmou o mesmo, acrescentando que “absolutamente nada indica que isso foi um ataque proposital” contra o seu país.

Falas semelhantes foram feitas pela ministra da Defesa da Bélgica, Ludivine Dedonder, e, segundo fontes da Otan, pelo próprio Joe Biden, a aliados. Em um rápido pronunciamento após uma reunião urgente do G7 sobre o episódio na noite anterior, o presidente americano havia dito que informações preliminares sugeriam que o míssil podia não ter sido disparado do território russo.

A “reação comedida” dos Estados Unidos foi elogiada pelo porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov. Ele, que responsabilizou a Ucrânia pela explosão, acusou altos funcionários de países ocidentais de fazerem alegações sem provas sobre o envolvimento russo no caso. “Estamos testemunhando mais uma reação histérica, delirante e russofóbica que não tem base em nenhum dado real”, disse.

A indicação de que a explosão não foi um ataque premeditado da Rússia diminui a possibilidade de desdobramentos mais graves. O primeiro-ministro polonês, Mateusz Morawiecki, afirmou que seu governo ainda analisa se acionará o Artigo 4 da Otan, mas que isso não parece necessário a essa altura. O procedimento prevê que membros da aliança façam consultas internas sempre que, na opinião de qualquer um deles, “a integridade territorial, a independência política ou a segurança de qualquer uma das partes estiver ameaçada”.

 

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