Maior explosão solar em 6 anos provoca apagão em rádios no continente americano – Mais Brasília
FolhaPress

Maior explosão solar em 6 anos provoca apagão em rádios no continente americano

De acordo com o observatório, a explosão foi de categoria X2.8

Foto: Igor Kovalchuk - Shutterstock

O Observatório de Dinâmica Solar da Nasa, a agência espacial dos Estados Unidos, informou que na tarde da última quinta-feira (14) ocorreu a maior erupção solar desde 2017, o que provocou falhas nas telecomunicações em partes das Américas do Sul, Central e do Norte, devido à enorme quantidade de radiação emitida.

De acordo com o observatório, a explosão foi de categoria X2.8. As erupções solares são classificadas de acordo com sua intensidade e variam de classe B (mais fraca) a C, M e X (mais forte). Cada mudança na classificação por letra representa um aumento de energia de dez vezes. E dentro de cada letra a escala é subdividida em números de 1 a 9, sendo 1 o mais fraco da classe e 9 o mais forte.

A última grande erupção havia ocorrido em setembro de 2017: uma X8.2.
Durante essas explosões, ou erupções solares, partículas energéticas são emitidas e viajam com velocidades muito próximas à da luz. Por isso, elas chegam à Terra em cerca de oito minutos, aumentando o nível de radiação. Elas são detectadas pelo Goes, o satélite da Nasa utilizado para o estudo do Sol e do clima espacial.

Além das partículas energéticas, as erupções solares liberam as ejeções de massa coronal (CME, em inglês), que são nuvens de plasma que viajam por mais tempo no espaço e demoram cerca de 2 a 3 dias para atingirem a Terra. Por isso, a expectativa é que essa CME possa chegar neste domingo (17) à Terra, provocando uma tempestade geomagnética.

“As CMEs são nuvens de plasma que possuem campo magnético intenso e costumam ser dezenas de vezes maiores que a Terra. Quando elas interagem com o campo magnético da Terra, provocam as tempestades geomagnéticas”, explica Marcel Nogueira de Oliveira, professor do Instituto de Física da UFF (Universidade Federal Fluminense).

Oliveira destaca que esses eventos, apesar de raros, costumam fazer parte do ciclo solar de 11 anos, principalmente, no auge de atividade da estrela, conhecida como máximo solar, o que deve ocorrer em 2024. “A dificuldade de prevê-los é justamente o que torna o estudo da física solar e do clima espacial algo tão importante e essencial nos dias de hoje.”

Os cientistas do Centro de Predições do Tempo Espacial, da Agência Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA), ainda estão analisando se as CMEs da explosão solar de quinta-feira (14) estavam direcionadas à Terra. Se estiverem, os efeitos só serão conhecidos quando atingirem o nosso planeta.

As regiões mais suscetíveis aos efeitos dessas tempestades solares são os polos, onde o campo magnético da Terra é menor. A forma mais visível desses fenômenos é a aurora boreal, nuvens coloridas e brilhantes que aparecem quando o campo magnético recebe a tempestade. No entanto, os especialistas afirmam que não é preciso se preocupar, porque a expectativa é de que a tempestade gerada seja de nível G1 ou G2, os mais baixos na escala da NOAA que vai até G5.

“Acredito ser possível que um solar flare X2, sob determinadas condições, possa produzir uma CME que por sua vez seja capaz de desencadear uma tempestade geomagnética G5 na escala NOAA. Mas os níveis de problemas que uma tempestade G5 pode ocasionar é muito particular e depende de vários fatores”, diz Oliveira, enfatizando dois pontos importantes:

1) explosões solares maiores, como um X9, são eventos que liberam mais energia e, consequentemente, têm chances maiores de produzirem uma CME maior e mais rápida. Portanto, explosões solares de maior magnitude, como um flare X9, são mais prováveis de causar avarias e interrupções em nossos sistemas elétricos e sistemas de comunicação de satélites do que um evento do tipo X2.8

2) tempestades geomagnéticas nível G5 costumam ser bem raras, tanto que ainda não ocorreram até o momento no atual ciclo solar 25 e também não ocorreram no ciclo solar passado, o ciclo 24. A última tempestade deste tipo foi observada no ciclo solar 23, quando ocorreram cerca de 13 tempestades deste porte.
Quando a tempestade geomagnética é suficientemente forte, ela pode causar grandes interrupções nas comunicações de rádio, redes elétricas, satélites ou espaçonaves. Na maior já registrada, em 1859, picos de eletricidade paralisaram os sistemas telegráficos do mundo, interrompendo as mensagens.
“Quanto mais soubermos sobre o Sol e como as estruturas das CMEs se propagam através do meio interplanetário, mais temos condições de prever com uma boa margem de antecedência a ocorrência de um evento extremo deste tipo e seremos capazes de mitigar seus impactos. Conhecer melhor nossa estrela mãe é algo essencial para nosso estilo de vida moderno, que é altamente dependente de satélites e meios de comunicação”, finaliza o físico.

Confira os impactos das tempestades geomagnéticas na Terra:
G1 (MENOR) – FREQUÊNCIA DE 1.700 CASOS POR CICLO DE 11 ANOS DO SOL
– Sistemas de energia: flutuações fracas na rede elétrica podem ocorrer.
– Operações espaciais: possível impacto menor nas operações de satélite.
– Outros sistemas: animais migratórios são afetados nesses níveis e acima; aurora é comumente visível em altas latitudes (próximas ao polo norte).

G2 (MODERADO) – FREQUÊNCIA DE 600 POR CICLO
– Sistemas de energia: sistemas de energia em altas latitudes podem apresentar alarmes de voltagem e tempestades de longa duração podem causar danos a transformadores.
– Operações de espaçonaves: ações corretivas na orientação podem ser necessárias pelo controle terrestre; possíveis mudanças na resistência do arrasto afetam as previsões de órbita.
– Outros sistemas: a propagação de rádio de alta frequência pode enfraquecer em latitudes mais altas, e auroras foram vistas tão baixas quanto Nova York e Idaho (tipicamente a 55° de latitude geomagnética).

G3 (FORTE) – FREQUÊNCIA DE 200 POR CICLO
– Sistemas de energia: correções de tensão podem ser necessárias, alarmes falsos podem ser acionados em alguns dispositivos de proteção.
– Operações espaciais: pode ocorrer carga superficial em componentes de satélite; o arrasto pode aumentar em satélites de órbita baixa da Terra e correções podem ser necessárias para problemas de orientação.
– Outros sistemas: pode ocorrer navegação por satélite intermitente e problemas de navegação por rádio de baixa frequência; o rádio de alta frequência pode ser intermitente e auroras foram vistas tão baixas quanto Illinois e Oregon (tipicamente a 50° de latitude geomagnética).

G4 (SEVERO) – FREQUÊNCIA DE 100 POR CICLO
– Sistemas de energia: possíveis problemas generalizados de controle de tensão e alguns sistemas de proteção podem desligar erroneamente a rede.
– Operações de espaçonaves: podem ocorrer problemas de carga e rastreamento na superfície, correções podem ser necessárias para problemas de orientação.
– Outros sistemas: correntes induzidas em dutos afetam medidas preventivas; propagação de rádio de alta frequência esporádica, navegação por satélite degradada por horas, navegação por rádio de baixa frequência interrompida e aurora foi vista tão ao sul quanto Alabama e norte da Califórnia (tipicamente a 45° de latitude geomagnética).

G5 (EXTREMO) – FREQUÊNCIA DE 4 POR CICLO
– Sistemas de energia: problemas generalizados de controle de tensão e problemas no sistema de proteção podem ocorrer, alguns sistemas de rede podem experimentar colapso completo ou apagões. Transformadores podem sofrer danos.
– Operações de espaçonaves: podem ocorrer carregamentos extensivos na superfície, problemas de orientação, comunicação de subida/descida e rastreamento de satélites.
– Outros sistemas: as correntes em dutos podem atingir centenas de amperes, a propagação de rádio em alta frequência pode ser impossível em muitas áreas por um a dois dias, a navegação por satélite pode ser degradada por dias, a navegação por rádio de baixa frequência pode ficar fora do ar por horas e auroras foram vistas tão ao sul quanto a Flórida e o sul do Texas (tipicamente a 40° de latitude geomagnética).
Fonte: Agência Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA)

Por Claudinei Queiroz