Morre Jorge Sampaio, presidente de Portugal que usou mecanismo da ‘bomba atômica’ no Parlamento

Chefe de Estado que dissolveu Legislativo em 2004, mas fez fama de conciliador, faleceu aos 81 anos em Lisboa

O ex-presidente de Portugal Jorge Sampaio, 81, morreu na manhã desta sexta-feira (10) em Lisboa. O chefe de Estado, que governou o país de 1996 a 2006, estava internado desde 27 de agosto com um quadro de insuficiência respiratória.

Antigo líder do Partido Socialista e nome importante na redemocratização portuguesa após a Revolução dos Cravos (1974), Sampaio vinha se dedicando, nos últimos anos, ao apoio e acolhimento de refugiados.

Um dia antes de ser internado, em 26 de agosto, assinou um artigo no jornal Público em que manifestava preocupação com o destino dos jovens do Afeganistão com a volta do Talibã ao poder.

No texto, afirmava que havia “preparado um programa de emergência de bolsas de estudo e de oportunidades acadêmicas para jovens afegãs”.

Desde o começo de sua vida política, Jorge Sampaio ganhou a fama de abertura ao diálogo.

Após a notícia de sua morte, houve diversas manifestações de pesar entre políticos de todos os espectros, muitos exaltando justamente sua habilidade para criar consensos.

O atual presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, fez um pronunciamento na televisão onde destacou justamente esta característica: “Homem de construção de pontes, homem de ideias”, afirmou.

Líder do partido de centro-direita PSD, o deputado Rui Rio destacou a lucidez e o espírito democrático do ex-presidente. “Guardo na minha memória, não vou dizer uma amizade, mas uma relação próxima e de muito respeito”, afirmou.

“Era um homem capaz de fazer pontes e de unir aquilo que muitos achavam impossível”, afirmou o escritor e político Manuel Alegre, em declarações à RTP. “Ele tinha uma visão estratégica da visão de Portugal no mundo. Não só um combatente pela democracia, mas também um estadista.”

Nascido em Lisboa em 1939, Jorge Fernando Branco de Sampaio formou-se em direito em 1961 e foi uma importante liderança no movimento estudantil que combatia a ditadura do Estado Novo de António Salazar.

Fundou e participou de movimentos de esquerda antes de ingressar no Partido Socialista, em 1978.

No ano seguinte, assumiu seu primeiro mandato como deputado. Em 1989, foi eleito presidente da Câmara Municipal de Lisboa -cargo equivalente ao de prefeito- com apoio do Partido Comunista Português, uma aliança inesperada entre legendas que, tradicionalmente, pouco dialogavam.

Chegou à Presidência da República em 1996 e foi reeleito em 2001.

O maior ponto de tensão de seu mandato foi a determinação da dissolução do Parlamento e a convocação de novas eleições. O mecanismo, apelidado de “bomba atômica” no cenário político, foi usado em 2004.

“Não me arrependo de nada do que fiz. Em alguns casos, faria exatamente igual, mas acho legítimo que as pessoas se questionem se fiz bem ou se fiz mal”, afirmou Sampaio, em uma conferência no Centro Cultural de Belém, em 2017.

Após deixar a Presidência, passou ainda pela Organização das Nações Unidas, como enviado especial para a luta contra a tuberculose e, posteriormente, foi alto-representante da entidade para a Aliança das Civilizações, órgão que busca formas de estimular a cooperação internacional contra o extremismo.

O ex-presidente estava de férias com a família no Algarve, no sul de Portugal, quando se sentiu mal. Sampaio tinha um histórico de problemas cardíacos e já havia sido submetido a cirurgias no coração.

Por Giuliana Miranda

 

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