Putin responde a Biden que aceita negociar, mas recusa deixar a Ucrânia – Mais Brasília
FolhaPress

Putin responde a Biden que aceita negociar, mas recusa deixar a Ucrânia

Diante da resposta, a Casa Branca reconheceu que "ainda não estamos em um ponto em que as negociações pareçam ser um caminho frutífero"

Putin, de 68 anos, está no poder desde dezembro de 1999, quando foi escolhido como sucessor pelo então presidente Boris Yeltsin

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, piscou para a oferta feita nesta quinta-feira (1º/12) pelo seu colega americano, Joe Biden, que sugeriu negociar um fim para a Guerra da Ucrânia.

Segundo disse nesta sexta (2) o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, “o presidente da Federação Russa sempre esteve e continua aberto a negociações para garantir nossos interesses”. Mantendo o tom apaziguador, afirmou que a negativa dos Estados Unidos em reconhecer a anexação russa de territórios ucranianos é um fator que deveria ser discutido para desimpedir as conversas.

A troca de sinais entre as principais potências no conflito iniciado há nove meses vem na esteira de outros movimentos nas últimas semanas, com Washington insistindo cada vez mais numa saída para a crise.

Ao mesmo tempo, claro, Biden e outros líderes ocidentais reafirmam seu apoio militar a Kiev, sob risco de alienar o presidente Volodimir Zelenski -cujo governo já disse temer “uma facada nas costas”. É uma equação delicada, até porque os EUA estão pagando o grosso da conta bélica da guerra, tendo empenhado US$ 20 bilhões (R$ 104 bi) até aqui em transferências de armamentos para os ucranianos.

Além disso, está cada vez mais claro que a Rússia conseguiu contornar o iceberg da catástrofe econômica colocado em seu caminho pelo regime duro de sanções ocidentais devido à guerra. O país sofre e terá contração de seu PIB, mas não entrou em insolvência.

Concorre também para a ideia de uma acomodação a percepção crescente no Ocidente de que o regime de embargo ao petróleo russo na União Europeia, que passa a valer na segunda-feira (5) e ainda embute um controverso acordo firmado nesta sexta para liberar compras abaixo de um teto de preços estipulado pela Comissão Europeia, não deverá ter muito efeito sobre os lucros de Moscou na área.

Com o objetivo de limitar a receita do Kremlin e evitar um choque global do petróleo, o bloco fixou em US$ 60 (R$ 311) o valor máximo para o barril russo, mas o preço é mais alto do que o praticado hoje por Moscou pelo barril Ural -que está na casa dos US$ 40 (R$ 207). Com o embargo na UE, a ideia é que o preço valha para compradores que não fazem parte do bloco. Representantes do G7 e da Austrália também já concordaram com a medida.

Na quinta, ao lado do francês Emmanuel Macron, Biden disse estar “aberto para conversar” com Putin, desde que ele deseje o fim do conflito. Peskov devolveu a condicionante, dizendo que não haverá retirada de forças do Kremlin das quatro regiões declaradas parte do território russo em 30 de setembro.

Diante da resposta, a Casa Branca reconheceu que “ainda não estamos em um ponto em que as negociações pareçam ser um caminho frutífero”, nas palavras do porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, John Kirby.
Somadas à Crimeia, anexada em 2014, as áreas declaradas parte do território russo equivalem a 22% da Ucrânia.

Mas Moscou não as controla totalmente, tendo retraído sua linha defensiva em Kherson (sul) para o sudeste do rio Dnieper, enquanto avança lentamente em Donetsk (leste) e não ocupa uma faixa ao norte de Zaporíjia (sul). Só Lugansk (leste) está praticamente toda dominada.

Peskov foi claro: “Na essência, isso foi o que Biden disse: ‘As negociações são possíveis apenas após Putin deixar a Ucrânia'”, afirmou, dizendo que isso não iria ocorrer. “Ao mesmo tempo, e é importante dizer isso, o presidente Putin sempre esteve, e permanece, aberto para contatos, para negociações.”

Nesta sexta, o líder russo conversou com o premiê alemão, Olaf Scholz. Segundo o Kremlin, Putin disse que a abordagem ocidental, de fornecer armas em grande quantidade para Kiev, é destrutiva. Instado a parar os ataques à infraestrutura civil da Ucrânia, em especial a rede de energia, disse que eles seguiriam porque eram uma resposta a ações como a explosão da ponte que liga a Rússia continental à Crimeia.

Em resposta, a ONU anunciou que está apurando se os ataques à infraestrutura civil não representam crimes de guerra. Jasminka Dzumhurs, uma das investigadoras, afirmou que muitas crianças não podem frequentar escolas que foram danificadas ou destruídas em ofensivas russas e que os cortes de energia estão interrompendo aulas online.

Em outra frente que sugere certo relaxamento diplomático, a estatal russa de energia atômica Rosatom afirmou que “a bola não está no campo russo” para estabelecer uma zona de segurança em torno da usina nuclear de Zaporíjia, a maior da Europa, que está sob controle de tropas de Putin.

Os frequentes ataques na região, que ambos os lados dizem ser feitos pelo inimigo, colocam o local sob risco de um desastre nuclear de grandes proporções. Até aqui, Moscou não aceitava a ideia de uma zona de segurança por achar que favoreceria militarmente Kiev. O diretor da Agência Internacional de Energia Atômica, o argentino Rafael Grossi, disse esperar que a zona seja estabelecida até o fim do ano.

Igor Gielow