Achem, provem e removam se houver, diz Guedes sobre suspeitas de corrupção envolvendo Bolsonaro
FolhaPress

Achem, provem e removam se houver, diz Guedes sobre suspeitas de corrupção envolvendo Bolsonaro

Guedes disse que, caso testemunhe algum ato de corrupção vai culpar o que chamou de "estatismo"

Paulo Guedes, ministro da Economia
Foto: Marcelo Camargo/ Agência Brasil

O ministro Paulo Guedes (Economia) afirmou nesta quarta-feira (7) que não presenciou atos de corrupção no governo e que quem acusa o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) de cometer atos ilícitos deve prová-los para removê-lo do cargo.

“Você não pode descredenciar a instituição da Presidência, batendo todo dia [dizendo] que tudo está errado e negando qualquer mérito. Tem dois anos sem nenhum escândalo de corrupção, e todo dia tem ‘a cunhada falou’, ‘o primo disse’, ‘não sei quem falou isso’. Pô, então achem, provem e removam se houver. Mas você não pode descredenciar a Presidência”, afirmou Guedes em comissão do Congresso.

“Alguém que foi eleito presidente da República merece respeito”, disse. “E vice-versa. O presidente tem que respeitar a mídia, a mídia respeitar o presidente. Todo mundo respeitar o Congresso, o Congresso respeitar o presidente, o Supremo também respeitar”, continuou o ministro.

Guedes disse que, caso testemunhe algum ato de corrupção vai culpar o que chamou de “estatismo”. “Não estou participando nem vendo nenhuma troca de dinheiro por baixo da mesa ou da cueca. Se eu estiver vendo, vou acusar o mesmo culpado de sempre. O estatismo”, disse.

“Não foi alguém do Bradesco que tirou dinheiro de alguém da [petroquímica] Braskem. Vai ser algum órgão público de algum lugar que está fazendo alguma coisa que não devia, fez algum ato de corrupção. E algum pirata privado que veio aqui puxar algum dinheiro também, porque existe a figura também”, continuou.

Guedes fez as declarações enquanto respondia a perguntas feitas durante audiência da Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara dos Deputados. Ele foi convocado inicialmente para discutir números da Previdência com problemas de estimativa apontados pelo TCU (Tribunal de Contas da União), mas logo no início da sessão parlamentares e ministro concordaram em explorar também outros assuntos.

As declarações são dadas em um momento em que a CPI da Covid avança sobre negociações de vacinas no Ministério da Saúde.

Uma das suspeitas veio à tona em torno da negociação da Covaxin, quando a Folha revelou o teor do depoimento sigiloso do servidor do Ministério da Saúde Luis Ricardo Miranda ao Ministério Público Federal, que relatou pressão “atípica” para liberar a importação da vacina indiana.

Outra suspeita foi revelada em entrevista à Folha publicada no dia 29 de junho, por meio da qual o policial militar Luiz Paulo Dominghetti Pereira disse ter recebido de um então diretor da pasta um pedido de propina de US$ 1 por dose para acertar a venda de imunizantes da AstraZeneca ao governo federal.

Nesta quarta, o servidor em questão -o ex-diretor de logística do Ministério da Saúde Roberto Dias–negou ter feito o pedido.

Paralelamente, nos últimos dias, a divulgação de gravações de uma ex-cunhada de Bolsonaro apresentou novos indícios de uma atuação do presidente no suposto esquema da “rachadinha”, inicialmente identificado no antigo gabinete do senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ) na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.

Os áudios, divulgados pelo UOL, indicam que o recolhimento de parte do salário de funcionários também ocorria no antigo gabinete de Bolsonaro na Câmara dos Deputados, com a participação ativa do hoje presidente da República.

Para Guedes, há atores políticos exagerando. Ele chegou a citar a hipótese de a situação gerar um Estado policialesco, com ampla quebra de sigilo de atores políticos.

“Eu estou vendo hoje senador querendo prender pessoa dando depoimento, quebrando sigilo. Queremos criar um Estado policial no Brasil, é isso? Todo mundo vai quebrar o sigilo de todo mundo? Traz a Coaf [Conselho de Controle de Atividades Financeiras] aqui, quebra todo mundo? Pode ser, para mim não tem problema. Agora, queremos criar esse Estado de desrespeito, policialesco? Acho que não”, disse.

“Acho que há atores exagerando, mas é o papel da democracia. Quando alguém transgride um pouco o território do respeito para a área do desrespeito, o próprio sistema repele. A democracia virtuosa diz ‘você está exagerando'”, afirmou.

Nos bastidores, interlocutores do ministro afirmam que a CPI da Covid tem excessos e que há hipocrisia nos trabalhos pois parte dos integrantes já figurou em escândalos de suspeitas de corrupção no passado. Guedes também já afirmou anteriormente que a CPI da Covid é “um perde-perde enorme” que antecipa o ciclo eleitoral, sugeriu que a apuração de eventuais culpas seja feita depois que “acabar a guerra” da pandemia e que seria melhor o país seguir em direção ao “ganha-ganha das vacinas e das reformas”.