Jair Bolsonaro caminha sem máscara em corredor de hospital
FolhaPress

Jair Bolsonaro caminha sem máscara em corredor de hospital

Presidente passa bem e segue evoluindo, informou nesta sexta-feira (16/7), por volta de 13h, o hospital Vila Nova Star, em São Paulo

Bolsonaro
Foto: Bolsonaro/Instagram

O presidente Jair Bolsonaro passa bem e segue evoluindo, informou nesta sexta-feira (16/7), por volta de 13h, o hospital Vila Nova Star, em São Paulo, onde ele deu entrada na noite de quarta-feira (14/7).

O novo boletim médico afirma que Bolsonaro “passa bem e permanece evoluindo satisfatoriamente, com a conduta médica inalterada”. A nota, assinada pelo médico Antônio Luiz Macedo e outros quatro medicos, afirma não haver previsão de alta. Ao jornal O Globo Macedo disse prever a alta em dois dias.

Mais cedo, às 11h40, Bolsonaro postou uma foto em que caminha pelo hospital. “Em breve de volta a campo, se Deus quiser. Muito fizemos, mas ainda temos muito a fazer pelo nosso Brasil. Obrigado pelo apoio e orações”, escreveu. Na foto, Bolsonaro está sem máscara, apesar da recomendação do uso da proteção contra a Covid.

A reportagem questionou o hospital sobre a obrigatoriedade do uso da máscara nos corredores. A assessoria de imprensa do Vila Nova Star informou que o hospital “acolhe integralmente a legislação brasileira”.

“Todos os pacientes internados na unidade são testados para Covid-19, o que inclui o senhor presidente da República. Além disso, todas as áreas Covid-19, tanto no pronto-socorro como nos apartamentos e UTI, são isoladas no hospital”, afirma. Na recepção e do lado de fora do hospital, todos os funcionários e médicos circulam com máscaras.

Na tarde desta sexta, um senhor foi até a entrada do hospital sem máscara e foi repreendido por um segurança, que pediu o uso da proteção. O senhor, que é apoiador do presidente, argumentou estar ao ar livre e deixou o local.

A ausência de máscara desobedece aos protocolos de segurança contra a Covid, na avaliação da infectologista Raquel Stucchi, professora da Unicamp. Segundo ela, o presidente deveria ser obrigado a usar o acessório no hospital. “Em todas as áreas, a não ser dentro de sua própria casa, as pessoas têm que usar máscara. E, dentro de ambientes de saúde, é preciso usar máscara cirúrgica, inclusive os pacientes em área de internação”, diz.

“Na primeira foto [ao lado de outra paciente, divulgada nesta quinta-feira (15/7)], possivelmente ele estivesse com dificuldade de colocar máscara por conta da sonda, mas é uma falta de controle de transmissão dentro do próprio hospital, mesmo que os dois tenham PCR negativo, porque a gente sabe que ele não é 100% [garantido]”, comenta.

As regras recomendadas hoje para conter a disseminação da Covid em ambiente hospitalar, reforça Raquel, preveem o uso de máscara. “O comportamento é absolutamente inapropriado. O hospital deveria exigir que ele usasse. Ele teria que estar de máscara o tempo todo”, afirma a infectologista.

A manhã foi tranquila em frente ao hospital, com intensa presença de jornalistas, mas sem acompanhamento contínuo de grupos de apoiadores do presidente. Houve gritos de “genocida” e “fora, Bolsonaro” por transeuntes.

Durante a tarde, o grupo de sete mulheres que esteve na frente do hospital na quinta-feira, retornou. As apoiadoras de Bolsonaro vestiam verde e amarelo e não usavam máscaras. Elas passaram a responder a gritos de opositores com “vai pra Cuba”, e houve gritaria em frente ao hospital.

As apoiadoras discutiram com seguranças do hospital, que não queriam autorizar que faixas fossem penduradas em frente ao prédio. Como solução, elas passaram a segurar as faixas na calçada. “Se a gente fosse da esquerda, o senhor não ia pedir isso”, disse uma delas. Uma apoiadora também reclamou com a imprensa por não querer ser fotografada.

Uma viatura de policiais militares também passou a se posicionar próximo ao hospital, alguns metros adiante na mesma rua. Também pela manhã, o vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (Republicanos) chegou ao local, e a primeira-dama, Michelle, foi vista deixando o hospital.

Na noite de quinta, auxiliares do presidente compartilharam imagem em que ele aparece lendo papéis e indicaram que Bolsonaro segue trabalhando.

O boletim médico anterior, divulgado na noite de quinta, informou que foi retirada a sonda nasogástrica que Bolsonaro estava usando por causa de uma obstrução intestinal, identificada na quarta, quando ele foi internado em Brasília com dores e em meio a uma crise de soluços.

O início da alimentação líquida do presidente estava previsto para esta sexta, mas a nota divulgada pela equipe médica não menciona a questão.

O médico Antônio Macedo, que cuida das cirurgias do presidente relacionadas à facada sofrida em 2018, afirmou ao jornal Folha de S.Paulo, na quinta, que inicialmente o paciente receberá alimentação líquida, o que é necessário na fase de retomada da atividade digestiva. Posteriormente, ele passará a receber alimentos pastosos e, finalmente, sólidos.

Na quinta, em entrevista à Rede TV!, Bolsonaro afirmou que estava afastada a necessidade de cirurgia -a transferência do presidente para São Paulo tinha como objetivo inicial verificar se uma operação teria que ser feita.

Ainda na entrevista, Bolsonaro disse que deveria ter alta nesta sexta-feira e que as funções intestinais estão se recuperando apenas com o tratamento terapêutico, sem a necessidade de cirurgia.

“Dada a facada que eu recebi e quatro cirurgias, essa obstrução [intestinal] é sempre um risco muito alto. Mas, graças a Deus, de ontem para hoje, evoluiu bastante esse quadro. Então, a chance de cirurgia está bastante afastada”, disse o presidente.

Antônio Macedo estava ao lado do paciente durante a conversa e confirmou a melhora. À Folha de S.Paulo, depois da entrevista na TV, Macedo disse que, diferentemente do que havia anunciado Bolsonaro, a alta não está prevista para esta sexta.

“A cirurgia, a princípio, está afastada, uma vez que o intestino começou a funcionar e o abdome está mais flácido e mais funcionante”, disse Macedo ao programa da RedeTV!.

O médico afirmou ainda que a sonda gástrica que Bolsonaro está usando deve ser retirada, mas que o mandatário terá que seguir uma dieta líquida. “O presidente hoje [quinta-feira] melhorou. Ele ainda está de sonda gástrica, nós estamos estudando a retirada da sonda porque os barulhos do abdome são bons, os ruídos são bons”, afirmou.

“E aquela área obstruída do lado esquerdo [do abdome], fruto de aderências decorrentes de toda essa complicação que ele teve, já esta mais palpável, pode permitir a retirada da sonda gástrica, ainda garantindo dieta líquida”, explicou o especialista.