Campanha antivacina teve pouco alcance entre candidatos nas eleições de 2020 – Mais Brasília
FolhaPress

Campanha antivacina teve pouco alcance entre candidatos nas eleições de 2020

Pesquisadores analisaram mensagens sobre o assunto publicadas no Twitter por 181 candidatos a prefeito

Foto: Erasmo Salomão/Ministério da Sáude

Mensagens do presidente Jair Bolsonaro e de seus seguidores que buscaram desacreditar vacinas contra a Covid-19 nas redes sociais tiveram pouca repercussão nas eleições municipais do ano passado, segundo um estudo que examinou centenas de publicações feitas durante a campanha.

Produzido por um grupo ligado à Rede de Pesquisa Solidária, que articula instituições acadêmicas públicas e privadas, o levantamento indica que a maioria dos candidatos que entrou na disputa pelas prefeituras preferiu apoiar a vacinação, inclusive boa parte dos que se alinharam a Bolsonaro.

Os pesquisadores analisaram mensagens sobre o assunto publicadas no Twitter por 181 candidatos a prefeito que concorreram em 17 grandes cidades, incluindo dez capitais. Das 628 postagens, 67% foram classificadas como favoráveis às vacinas, 17% como desfavoráveis e 16% como neutras.

Candidatos que tiveram apoio de Bolsonaro ou se alinharam com seus pontos de vista foram responsáveis por 74% das publicações contrárias aos imunizantes. Do total de postagens bolsonaristas sobre o tema, 30% foram classificadas como desfavoráveis, 57% como favoráveis e 13% como neutras.

Foram consideradas desfavoráveis mensagens que questionaram resultados de testes sobre a eficácia dos imunizantes, fizeram comparações para desqualificar vacinas, destacaram efeitos colaterais adversos ou se manifestaram contra a ideia de tornar a vacinação obrigatória no país.

Publicações que comemoraram avanços nos ensaios clínicos, defenderam a ampla oferta de imunizantes ou explicaram sua importância para proteção da população foram consideradas favoráveis. Informações sobre o calendário de vacinação e de conteúdo técnico foram tratadas como neutras.

“Muitas mensagens foram baseadas na manipulação estratégica de informações que, mesmo verdadeiras, foram amplificadas ou distorcidas para alimentar a desconfiança nas vacinas”, diz a cientista política Lorena Barberia, da Universidade de São Paulo, coordenadora da rede de pesquisadores.

Para Pedro Bruzzi, sócio da consultoria de análise de mídias sociais Arquimedes e pesquisador da Fundação Getulio Vargas em São Paulo, que participou do estudo, os dados apontam a fragilidade dos mecanismos adotados pelas plataformas da internet para conter a desinformação nas redes.

“Atores políticos não podem agir de forma irresponsável e isso passar despercebido”, afirma o pesquisador. “Pela natureza das posições que ocupam e seu peso institucional, essas pessoas precisam ser responsabilizadas quando investem contra uma política pública indiscutível, como as vacinas.”

Os pesquisadores encontraram poucas mensagens de Bolsonaro sobre a vacinação entre suas publicações no Twitter, mas analisaram também os discursos do presidente e verificaram que suas críticas aos imunizantes se tornaram mais frequentes no segundo semestre do ano passado.

Estudo publicado pela Rede de Pesquisa Solidária em maio mostrou que mensagens de Bolsonaro e seus seguidores nas redes sociais estimularam nesse período uma onda de ataques à Coronavac, vacina desenvolvida pela China e trazida ao Brasil pelo Instituto Butantan, de São Paulo.

O levantamento feito agora sobre as manifestações dos candidatos a prefeito mostra que as mensagens favoráveis à vacinação alcançaram maiores índices de engajamento no Twitter do que postagens antivacina, com número maior de curtidas e republicações pelos usuários da rede social.

Para os pesquisadores, esse resultado reflete o apoio significativo que os imunizantes receberam da população brasileira nos últimos meses. Segundo o Datafolha, 91% dos brasileiros adultos já tinham se vacinado ou pretendiam se vacinar em maio, e apenas 8% não queriam tomar a injeção.

De acordo com os dados mais recentes do consórcio de veículos de imprensa, 77% dos brasileiros já receberam ao menos uma dose e 64,1% completaram o primeiro ciclo de imunização. Até agora, 8% dos brasileiros já tomaram também a primeira dose de reforço contra o coronavírus.

Por Ricardo Balthazar