Deputadas trans eleitas querem discutir além de pautas identitárias – Mais Brasília
FolhaPress

Deputadas trans eleitas querem discutir além de pautas identitárias

Congresso terá pela primeira vez parlamentares trans, Duda Salabert (PDT-MG) e Erika Hilton (PSOL-SP)

Foto: Reprodução

“A estrutura preconceituosa quer nos limitar a discutir somente as chamadas pautas identitárias”, afirma a deputada federal Duda Salabert (PDT-MG), uma das primeiras parlamentares transgênero eleita da história do Congresso Nacional.

Em feito inédito, Salabert e Erika Hilton (PSOL-SP), duas mulheres trans, ocuparão cadeiras na Câmara dos Deputados a partir de 2023.

Vereadora da cidade de São Paulo (SP), Hilton recebeu quase 257 mil votos. Salabert, que é vereadora em Belo Horizonte (MG), teve pouco mais de 208 mil votos.

As pautas relacionadas à comunidade LGBTQIA+ estarão presentes na atuação das parlamentares, mas elas não pretendem se limitar a isso.

Atuando como professora há mais de 20 anos, Duda Salabert afirma que a educação sempre esteve nas suas discussões e não será diferente no exercício parlamentar. Entre as medidas que ela pretende levar ao Congresso estão a valorização dos salários e carreira do professor e o incentivo ao ensino superior.

Para ela, a universidade deve ser a engrenagem central para o crescimento econômico. “O que vai tornar o Brasil mais rico não vai ser moer as nossas montanhas e nem transformar nossos biomas em pasto para a pecuária, mas sim a educação”, afirmou.

Outras pautas que estarão no radar da parlamentar serão a reforma do sistema prisional e a questão ambiental, sendo esta última sua agenda prioritária.

“Sou de Belo Horizonte e como vereadora atuei na luta em defesa da Serra do Curral e da segurança hídrica da região metropolitana. Quero levar esse debate para a esfera nacional”, afirmou.

Já a deputada Erika Hilton afirmou que sua agenda dependerá do resultado do segundo turno, mas que em um primeiro momento pretende construir uma comissão para analisar a crise que o país está passando e propor soluções para enfrentá-la.

Outras agendas que estarão presentes na sua atuação parlamentar serão o enfrentamento à fome, a questão da moradia, segurança pública, meio ambiente e educação.

Com o fim do primeiro turno das eleições, neste domingo (2/10), um terço do Senado foi renovado e os resultados consolidam o PL, de Bolsonaro, como o partido com a maior bancada da Casa, formada por 81 senadores. A sigla ocupará 14 cadeiras a partir de 2023 -cinco a mais que a última formação.

Para Hilton, a formação dessa bancada pode dificultar o avanço da agenda de direitos das minorias. “Eles terão uma postura de barrar essas pautas. O que é de fato preocupante. Nós teremos que trabalhar o dobro do que nós estávamos planejando trabalhar”, afirmou.

Já para Salabert, o Congresso sempre teve partidos conservadores que tentam frear o avanço das pautas sociais, mas é preciso reconhecer que houve um avanço nesta eleição com a formação da bancada do cocar e da bancada trans. “Um avanço tímido, mas avançamos”, afirmou.

Com relação a expectativa para o Congresso de 2023, as parlamentares avaliam que será um desafio atuar com uma composição conservadora.,

“É um cenário devastado pela ascensão do centrão e extrema direita, será preciso dialogar para conseguir barrar o retrocesso”, afirmou Hilton.

Salabert espera que o próximo Congresso tenha a responsabilidade de construir políticas voltadas à justiça social e ambiental.

Além das duas parlamentares, três deputadas estaduais trans foram eleitas este ano. Linda Brasil (PSOL-SE), Dani Balbi (PC do B-RJ) e Carolina Iara (PT-SP).

Segundo dados da Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais), 78 parlamentares trans concorreram esta eleição, mas somente cinco foram eleitas.

Na avaliação de Salabert, para que nas próximas eleições mais candidatas trans tenham sucesso nas urnas é fundamental as parlamentares que estão em exercício ter o compromisso na construção de novas lideranças. Além disso, se faz necessário levar o debate para a esfera federal, segundo ela.

Em relação ao feito inédito de ter duas deputadas federais trans no Congresso, Erika Hiton avalia que se trata de um “fenômeno de resgate e reparação histórica que não poderá ser freado”.

“A nossa chegada representa um grito de desespero dos excluídos. Nós não aceitamos mais ficar de fora. Nós não aceitamos mais não participar do jogo democrático. Nós não aceitamos mais uma ausência de representação e o esmagamento das nossas pautas”, concluiu.

Por Priscila Camazano