Doria diz querer Alckmin no PSDB, e ex-governador admite opção Lula – Mais Brasília
FolhaPress

Doria diz querer Alckmin no PSDB, e ex-governador admite opção Lula

Alckmin se colocou à disposição para o diálogo em torno de uma alternativa para o país

Geraldo Alckmin e João Doria
Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

Agora presidenciável do PSDB, o governador de São Paulo, João Doria, afirmou nesta segunda-feira (29) que gostaria que o ex-governador Geraldo Alckmin permanecesse no PSDB.
Desafeto de Doria, Alckmin já anunciou que está de saída do partido, mas aguardou as prévias para isso -ele apoiou o candidato derrotado, Eduardo Leite (PSDB), governador do Rio Grande do Sul.

“Gostaria que ele permanecesse no PSDB. […] Mas essa é uma decisão soberana do governador Geraldo Alckmin”, disse em entrevista à imprensa.
Doria disse respeitar a biografia e a trajetória de Alckmin, que foi um dos fundadores do PSDB, e o elogiou como um “homem honesto e decente”.
Questionado sobre o fato de Alckmin poder ser seu adversário nas urnas, como vice do ex-presidente Lula (PT), Doria afirmou que preferia não comentar esse tema.

Alckmin decidiu deixar o PSDB depois que Doria escolheu seu vice, Rodrigo Garcia (PSDB), como candidato do partido ao Governo de São Paulo, vaga que o ex-governador pleiteava. Alckmin pode ser candidato ao Palácio dos Bandeirantes pelo PSD ou migrar ao PSB para fazer a dobradinha com Lula no plano nacional.

Alckmin participou, nesta segunda, de uma reunião com presidentes das centrais sindicais Força Sindical, UGT, CTB e Nova Central. No encontro, os dirigentes deram sinal positivo para a chapa Lula-Alckmin, e o ex-governador não indicou se pretende ser candidato a vice ou a governador -as duas hipóteses estão em aberto.

Aliados de Alckmin apostam que, com a vitória de Doria nas prévias, a saída do PSDB deve ser anunciada em breve, mas a escolha em relação a partidos e cargos na eleição de 2022 pode ficar só para o ano que vem.

De acordo com Miguel Torres, presidente da Força Sindical, Alckmin disse ter se preparado para mais uma corrida estadual, mas que a hipótese nacional também caminhava.
Adilson Araújo, presidente da CTB, afirmou que Alckmin se colocou à disposição para o diálogo em torno de uma alternativa para o país.

Na reunião, o ex-governador falou sobre a necessidade de composições e de uma união nacional para tirar o Brasil da crise, além de ter definido o encontro como histórico.
Alckmin vem fazendo sua pré-campanha próximo a sindicatos, participando de eventos pelo estado. Os dirigentes das centrais afirmaram ter ótima relação com o ex-governador.

Na reunião, o ex-governador falou de vacina, pandemia, saúde, miséria, fome, desemprego -discursou sobre temas nacionais e fez uma análise da conjuntura.
Nos bastidores, Alckmin ouviu de sindicalistas que, uma vez vice de Lula, poderia pleitear a Presidência em 2026, porque o petista teria 81 anos, mas respondeu que desejava ter uma participação ativa já neste pleito.

Ricardo Patah, presidente da UGT e filiado ao PSD, no entanto, diz que, em sua avaliação, Alckmin deve ser candidato em São Paulo pelo PSD.
“A participação dele no cenário nacional ou estadual é sempre bem-vinda. Não há dúvida de que seria interessante um desenho desse [com Lula], mas minha leitura é de que ele sai [candidato] ao Governo de SP pelo PSD. Ele está na frente nas pesquisas, com Márcio França [PSB] vice”, diz.

​Na entrevista à imprensa, Doria afirmou ainda que é cedo para se comprometer a ser candidato a vice numa chapa com o ex-juiz Sergio Moro (Podemos). Questionado sobre o que pesaria nessa decisão, respondeu: “É cedo ainda, temos um longo período pela frente para materializar e sedimentar uma decisão dessa natureza”.

O tucano afirmou ter “profundo respeito por Sergio Moro” e que agendou com ele uma conversa após sua viagem aos Estados Unidos, marcada para esta semana, de quarta (1º) a sábado (4). O governador de São Paulo disse ter marcado encontros com outros presidenciáveis, mas não mencionou nomes.

“Agora é hora de união, do bom diálogo e do bom entendimento, do respeito a todos, primeiro dentro do PSDB, e depois com partidos que poderão compor essa frente democrática, liberal, social, que ficará distante dos extremismos de Lula e de Bolsonaro. Certamente Sergio Moro faz parte dessa frente com protagonismo também”, afirmou em entrevista à imprensa.

Doria disse que pretende romper sua rejeição com o eleitorado fazendo campanha. “É se apresentar, dialogar, debater, olhar nos olhos das pessoas e visitar o Brasil.” O governador afirmou que, aos fins de semana, a partir de janeiro, vai rodar o país.
Ele deve anunciar seis nomes de sua equipe econômica até o fim da próxima semana.

“Não teremos um ‘posto Ipiranga’, todos os seis serão protagonistas”, disse na entrevista à imprensa, ressaltando que um dos nomes é o secretário da Fazenda de São Paulo, Henrique Meirelles (PSD), e que três integrantes serão mulheres.

Doria também voltou a dizer que gostaria de ter uma mulher como candidata a vice-presidente.
O governador de São Paulo venceu as prévias presidenciais do PSDB no sábado (27), por 54% contra 44,7% de Leite.
Doria afirmou que, logo antes da entrevista, estava falando ao telefone com Leite, a quem elogiou como “brilhante, competente e dedicado”. “Todos nós estaremos juntos a partir de agora.”

O governador afirmou ter combinado uma conversa com Leite quando voltar dos EUA e disse ter sido um equívoco a notícia de que teria convidado Leite para coordenar sua campanha à Presidência da República.
No domingo (29), Doria disse à reportagem ter convidado Leite para integrar o comando de sua campanha, “em uma posição de protagonismo”.
Leite, no entanto, afirmou à reportagem que não se vê numa posição de coordenação da campanha.

“Permaneço no PSDB, mas não me vejo coordenando uma campanha presidencial, pois serei governador até o último dia do meu mandato e não imagino poder coordenar algo desta dimensão nacional estando focado nos problemas e soluções do meu estado.”
Reforçando a avaliação de aliados do gaúcho de que a união em torno de Doria é tarefa muito difícil, Leite fez questão de marcar sua distância do governador paulista.

“Além disso, penso que deve haver uma sinergia entre candidato e coordenador que seja maior do que o simples fato de estarem no mesmo partido. Imagino que o governador Doria busque alguém afinado com sua forma de pensar e fazer política, para além de uma visão meramente partidária”, completou.

“Eu não fiz esse convite, eu convidei Eduardo para dialogar e ele aceitou”, disse Doria, ressaltando que gostaria que Leite tivesse “um papel de protagonismo na campanha do PSDB, na nossa campanha, na campanha de todos nós”.

“Mas não a coordenação, eu jamais faria esse convite, não porque faltem méritos. Mas ele é governador do Rio Grande do Sul, ele volta a fazer seu papel. […] Fisicamente ele fica no Rio Grande do Sul e precisamos de um coordenador que fique próximo do candidato”, disse Doria.

“Ele terá protagonismo sim, mas isso será objeto de conversa no nosso retorno da viagem”, completou.
O presidenciável elogiou também o presidente do PSDB. “Não é fácil tomar a decisão de fazer prévias a nível nacional, foi um gesto de grandeza e coragem de Bruno Araújo”, disse.
Doria evitou demonstrar apetite pelo controle do PSDB, que deve fazer convenção em maio de 2022 para definir um novo presidente. O governador paulista não confirmou se vai pleitear o posto e desconversou.

A respeito da permanência ou não, no PSDB, do deputado Aécio Neves (MG) e de outros tucanos considerados bolsonaristas, que são rivais internos de Doria, o governador também evitou responder, dizendo que o assunto cabe a Araújo.
Antes da entrevista coletiva na tarde desta segunda, um jingle de Doria ecoava na sede do PSDB paulista. A letra fala em “João Doria trabalhador” e “João Doria vacinador”, além de “pai da vacina”.

Por Carolina Linhares e Katia Seabra