Em três meses, presidente da Petrobras acomoda aliados do Planalto e acelera corte de preços
A gestão de Paes de Andrade é questionada também por minoritários e sindicatos por afrouxar as regras de governança da empresa
Caio Paes de Andrade foi indicado pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) ao comando da Petrobras para dar “nova dinâmica” aos preços dos combustíveis. Três meses depois, os números mostram que cumpriu a missão, mas não só: ele é acusado por opositores de afrouxar as regras de governança da companhia e de acomodar aliados do governo em cargos na estatal.
Desde que o executivo assumiu, sob questionamentos de minoritários pela sua falta de experiência no setor, os preços da gasolina e do diesel vendidos pela estatal caíram 19,2% e 13,7%, respectivamente. Os movimentos refletem a queda das cotações internacionais do petróleo, mas têm sido feitos “a conta-gotas” para gerar notícias positivas.
O preço da gasolina foi derrubado quatro vezes e o do diesel, três vezes. A Petrobras derrubou duas vezes o preço do gás de cozinha e passou a divulgar mudanças nos preços de combustíveis de aviação e do asfalto, o que não fazia quando as cotações do petróleo estavam em alta.
Assim, em seu mandato de 14 semanas, apenas 5 não tiveram anúncios de cortes nos preços, que vêm sendo usados pelo governo como um dos trunfos da campanha à reeleição de Bolsonaro, com publicações em redes sociais e visitas a postos não só no Brasil, mas também na Inglaterra.
A mudança na estratégia de divulgação dos preços, aliada à presença constante de Paes de Andrade em Brasília, leva opositores a brincar que agora a decisão sobre reajustes é tomada no Palácio do Planalto.
No último dia 16, o executivo anunciou a descoberta de um câncer e o início do tratamento na capital, mas antes disso, não aparecia muito na sede da empresa, no Rio de Janeiro. Segundo a agenda oficial publicada no site da estatal, ele teve compromissos no Rio em apenas oito dias até o anúncio da doença.
O restante da agenda foi cumprida no edifício da Petrobras em Brasília e em reuniões virtuais ou está “sem compromissos oficiais”. Ele tem resistido a aparições públicas e não participou nem de encontros para detalhar o balanço da companhia com analistas e com a imprensa.
Numa rara aparição pública, enviou vídeo para a abertura da feira Rio Oil and Gas nesta segunda-feira (26), no qual reforçou o foco da empresa no pré-sal e de seus esforços para descarbonizar as operações e fez propaganda do governo Bolsonaro, falando em melhoria do ambiente de negócios nos últimos anos.
A gestão de Paes de Andrade é questionada também por minoritários e sindicatos por afrouxar as regras de governança da empresa. Sua própria nomeação foi questionada e teve três votos contrários entre os dez conselheiros aptos a votar, por alegações de falta de experiência para o cargo.
Para reduzir resistências, o governo nomeou um conselho mais alinhado, formado majoritariamente por ocupantes de cargos públicos, e o Comitê de Pessoas, que analisa as indicações, não tem mais representantes dos minoritários, como em gestões anteriores.
O executivo pretende também trocar a diretoria de Governança, que tem poder de veto sobre decisões que gerem risco ou contrariem o estatuto da empresa. Até o momento, ele trocou apenas o diretor de Transformação Digital e Inovação, indicando um nome próximo ao presidente da República, o executivo Paulo Palaia.
Nas assessorias especiais da presidência, Paes de Andrade tem acomodado outras pessoas próximas ao Palácio do Planalto e ao Exército. Um deles é o coronel Luiz Otávio Franco Duarte, que atuou sob o comando do general Eduardo Pazuello no Ministério da Saúde. Outro é o militar da reserva Mario Pedroza da Silveira Pinheiro.
Paes de Andrade nomeou outros quatro assessores, todos eles oriundos de sua antiga equipe no Ministério da Economia -ele era secretário especial de Desburocratização, Gestão e Governo Digital, indicado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, quando foi nomeado à Petrobras.
“O balanço dos primeiros 90 dias da gestão de Paes de Andrade mostra que a governança da Petrobrás está comprometida por indicações políticas e ataques na estrutura organizacional da empresa”, diz o coordenador-geral da FUP (Federação Única dos Petroleiros), Deyvid Bacelar.
“Medidas internas questionáveis estão sendo adotadas para facilitar demandas da presidência da República às vésperas das eleições”, completa.
A Petrobras diz que “todos os profissionais contratados têm as qualificações necessárias para o desempenho de suas funções e atividades”. “Destacamos também que alterações no quadro funcional fazem parte do processo de mudança de gestão em qualquer empresa.”
Sobre a aceleração dos reajustes, a empresa repetiu que que não há periodicidade definida para os reajustes. “A companhia segue buscando o equilíbrio dos seus preços com o mercado, mas sem o repasse para os preços internos da volatilidade conjuntural das cotações internacionais e da taxa de câmbio”.
“Por fim, esclarecemos que o presidente trabalha presencialmente tanto na sede, no Rio de Janeiro, como no prédio da Petrobras em Brasília; e eventualmente em São Paulo”, completou, em nota, a companhia.
Por Nicola Pamplona