'Não organizei gabinete paralelo, fazia contatos', diz Arthur Weintraub
FolhaPress

‘Não organizei gabinete paralelo, fazia contatos’, diz Arthur Weintraub, ex-assessor de Bolsonaro e alvo de CPI

Ex-assessor da Presidência da República negou participação em gabinete paralelo que atuaria nas ações de combate à Covid-19

Arthur Weintraub
Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

Em vídeo divulgado na tarde deste sábado (5/6), o ex-assessor da Presidência da República Arthur Weintraub, ao lado do ex-ministro da Educação Abraham Weintraub e seu irmão, negou que tenha participado da organização de um gabinete paralelo que atuaria de modo extraoficial na orientação de Jair Bolsonaro (sem partido) nas ações de combate à pandemia de covid-19 no país.

O tema é um dos principais investigados na CPI da Covid. “Quando se ouve aí na na Comissão Parlamentar que organizei… Cara, eu não organizei gabinete, eu fazia contatos científicos e trazia as informações pro presidente. […] Não havia assessoria paralela do presidente”, diz Arthur Weintraub.

Weintraub atuava dentro do Palácio do Planalto no núcleo que ficou conhecido como “ala ideológica” do governo. Em agosto de 2020, período em que o governo brasileiro acelerava a campanha em defesa do que passou a chamar de “tratamento precoce” (estímulo à cloroquina e outros medicamentos sem eficácia comprovada), Weintraub foi designado “especialmente” por Bolsonaro para “acompanhar questões relativas ao tratamento precoce da covid-19”.

Vídeos revelados nesta sexta (4/6) pelo portal de notícias Metrópoles mostram o chamado “gabinete paralelo” orientando o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) a ter cautela com vacinas sobre a covid-19. Nas imagens, aparecem a médica Nise Yamaguchi, o ex-ministro Osmar Terra e o virologista Paulo Zanoto, entre outros participantes.

Em depoimento à CPI da Covid, Yamaguchi afirmou ter se reunido com Arthur, e disse aos senadores que participou de conversas que discutiam a prescrição do uso de cloroquina para o tratamento da covid-19.

“Tive contato, sim, com a com a doutora Nise, ela falava com o presidente, tive contato com com o doutor Janotto, virologista. Eles conversavam comigo, me traziam as coisas para mostrar para o presidente. E era simplesmente uma questão que eles conseguiam ter uma interface, uma conversa comigo, por eu ter essa possibilidade de entender a parte científica do artigo científico. E eu consegui traduzir de uma maneira mais simples para o presidente”, afirmou no vídeo.

“E agora, mais recentemente, começaram a colocar o meu nome, como chefe de um gabinete paralelo que nunca existiu, eh, nos contatos existem, eram contatos de cientistas, Oxford, contatos de cientistas de universidades renomadas, virologistas, médicos que atuam em áreas de ponta”, disse Arthur Weintraub.

No último dia 26, o colegiado da CPI da Covid aprovou a convocação de Arthur Weintraub, De acordo com o senador Alessandro Vieira, os parlamentares pretendem cobrar de Weintraub esclarecimentos sobre a sua atuação “na estrutura extraoficial de assessoramento no combate à pandemia”.

O “assessoramento extraoficial” se dá, na visão dos parlamentares de oposição ao governo, porque havia, dentro do Palácio do Planalto, membros do governo sem formação médica ou qualquer ligação com o Ministério da Saúde atuando em questões relativas ao enfrentamento à covid-19.

“As orientações deste grupo foram contrárias ao consenso técnico global e causaram prováveis prejuízos à saúde pública”, afirmou o congressista.

No vídeo, Arthur Weintraub criticou no vídeo a presença de seu nome em assuntos relacionados ao gabinete paralelo. “Quando você olha agora, o meu nome aparece em tudo. Por quê? Eles viam em mim a possibilidade de mostrar pro presidente, de uma maneira mais simples, a situação. Mas eu não era o único caminho, ou só se chegava ao presidente por mim, isso nunca existiu. Naquele momento era a possibilidade tinha que salvar vidas. E acho que salvei. Inclusive, é importante dizer que o presidente se mostrou muito preocupado em salvar vidas.”

Covid-19

Nesta sexta, os irmãos afirmaram que contraíram covid-19 e se recuperam da doença nos Estados Unidos, onde vivem. Arthur contou que eles pretendiam se vacinar, mas não puderam por causa dos sintomas da doença, que apareceram no início de maio.

Em abril, os Estados Unidos anunciaram que todos os adultos já poderiam ser imunizados. Abraham ocupa o cargo de diretor-executivo do Banco Mundial e Arthur é secretário de Segurança Multidimensional da OEA (Organização dos Estados Americanos).

No vídeo, eles agradeceram aos médicos pelo tratamento, sem dar detalhes. “A gente seguiu todo o receituário, tudo o que a gente havia falado, e pela gravidade da cepa – muito agressiva– esse tratamento que a gente fez foi fundamental para que nosso quadro não se agravasse”, diz Abraham.

“A gente está se recuperando ainda, não está 100%, mas a gente agradece todo mundo que ajudou”, acrescentou Arthur.